04:17

Silenciosamente abstrata


"Acho que fui eu que mudei: é a solução mais simples. (...) Mas enfim tenho que reconhecer que sou sujeito a essas transformações súbitas. O que acontece é que penso muito raramente; então uma infinidade de pequenas metamorfoses se acumulam em mim, sem que eu me dê conta, e aí, um belo dia, ocorre a verdadeira revolução. Foi isso que de a minha vida esse aspecto vacilante, incoerente..."

(A Náusea, de Sartre)
MUDANÇAS, que me permitiram exteriorizar algumas mudanças que há muito já tenho tentando consolidar aqui dentro...

19:26

"...para ver e mostrar o nunca visto, o bem e o mal, o feio e o bonito...Porque de outro jeito a vida não vale a pena"

19:20

Saudade



11:14

Cotidiano escola


Pensar e escrever sobre o ensino nos tempos atuais é tarefa árdua, porém necessária no mundo complexo que nos apresenta. Precisamos perceber que tudo é diferente de há 20 anos; as transformações são grandes e consistentes e todas têm implicações diretas na atividade humana.

“Para mim os homens caminham pela face da Terra em fila indiana. Cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás. Na sacola da frente, nóscolocamos as nossas qualidades.Na sacola de trás, guardamos os nossos defeitos. Por isso durante ajornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que possuímos,presas em nosso peito. Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente nas costas do companheiro que está adiante, todos os defeitos que ele possui.Nos julgamos melhor do que ele, sem perceber que a pessoa andando atrás de nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito”

Não julgamos necessário tecer maiores comentários sobre o que deve ser evitado enquanto comportamento e atitudes que levem ao sucesso profissional, bastando para isto, que se desconsiderasse tudo o que foi anteriormente sugerido.Atitudes pessimistas, como considerar-se vítima de um sistema injusto, reclamar da vida como ela é, culpar sempre as outras pessoas pelos próprios problemas, não querer aprender com as próprias experiências e preocupar-se apenas em seu status social, no nosso entender, apenas contribuem para dificultar a formação do perfil profissional ideal em nossos dias.

Finalizando, acreditamos que a busca pela melhoria contínua no ensino em nossos dias deve ser marcada por uma cumplicidade entre aluno e professor ,segundo a qual ambos, na qualidade de seres humanos, sujeitos a perfeições e imperfeições,comprometem-se a investir na sua qualificação, encarando um ao outro como um "cliente" ao qual um excelente serviço deve ser prestado. Agindo assim, estaremos conduzindo a nós mesmos e ao nosso próximo àquilo que, apesar de tão subjetivo, costumamos chamar felicidade. Entendemos, também, que para isso é necessário lançar mão de outro conceito subjetivo, o do amor, sem o qual dificilmente aprenderemos a aproveitar e desfrutar dos mistérios e oportunidades que nos são oferecidos ao longo da nossa existência.

Apensar de idealizado as reflexões citadas, lidar com o educando não chega a ser um trabalho árduo,porém lidarmos com o sistema corrosivo do cotidiano, quando falta ética e valores que desnorteiam o processo educativo é algo que muitas vezes independe da relação professor/educando.

16:35

Afagos

Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro... Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas. Assim como a Lispector ...

11:13

Saídas

"Não deixe portas entreabertas.
Escancare-as ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas passam
apenas semiventos, meias verdades
e muita insensatez."

(Cecília Meireles)

06:50

Como diria Mário Quintana:
POEMINHO DO CONTRA
"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"

Hoje estamos bem, do amanhã já não sabemos, não nos pertence... Até as estruturas que parecem ser as mais sólidas sofrem os efeitos dos desatinos alheios...

04:46

Mentira


A mentira não deixa raiva, deixa desalento.

04:31

"( ...) e a vida segue acontecendo nos detalhes, nos desvios, nas surpresas e nas alterações de rota que não são determinadas por você, mas sim por um olhar que antes passava desapercebido, por uma palavra que você não esperava escutar e por fim escutou.

[ Martha Medeiros ]

20:47

Quem acreditou


"Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou...
E perdeu a paz...
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais."
[Tom Jobim]

E tudo secou...


"(... )nunca mais ela seria apenas o que ela pensasse. Sua aparência final a ultrapassara e, superando-a, se agigantava serena.
.
[clarice lispector]

E o que passou, calou. E o que virá, dirá...

12:16

Sempre um papo



Assisti um programa na TV com Adélia Prado, confesso que na hora nem acreditei que era a Adélia Prado, o programa foi perfeito, cada poema recitado era uma viagem... Conheci muito mais a poesia desta minera e me aprofundei mais no amor pelo cotidiano.

Para quem não assistiu, no site do programa Sempre um papo, está disponível o vídeo do programa, vale a pena conferir. Particularmente já havia assistido a entrevista com Lia Luft e Luis Fernando Veríssimo.

É para isso que serve Adélia, para a gente conseguir explicar como ama....tá,tá...concordo, ela exagerou pros meus mil anos luz de cabeça na lua, mas ler de "amor" é sempre divino. "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis" ( Carlos Drummond de Andrade) Então nada melhor para começar uma segunda-feira.

Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele falo palavras como lanças

Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele podem entalhar-me:
Sou de pedra sabão.

Alegre ou triste
Amor é a coisa que mais quero.

17:09

Cada pedaço de mim



"Cada pedaço de mim sabe o inferno que é ser sol em noites de chuva,
ser cor nos cinzas dos edifícios,
ser luz na escuridão das manhãs.
Cada todo de ti sabe a delícia que é ser flor nas asas do vento,
ser cristal nos olhos das fadas,
ser azul no fundo do mar.
Cada suspiro de nós sabe a angústia que é ser só um na multidão dos dias,
ser muito na pobreza da esquina,
ser ninguém na roda da vida.
Enquanto isso os relógios se vão,
e vêem aqueles que sabem o que é apenas ser na ausência do nada".

09:24

Por aí...


Nossa! Andei observando que ando a receber visitas, tantos comentários singelos. Genteeee, obrigada. Depois de uma semana turbulenta, aqui estamos na paz. Hoje não vou me deter muito nas palavras. Deu vontade sabe de que? De...Sair por aí... Participar de uma passeata com pássaros gigantes, árvores criando pés e bocas fazendo o que o pensamento mandasse. Livros que cantam também. Só parar numa cachoeira de brigadeiro. A noite chega de mansinho e a lua é clara, por que é cheia. As estrelas dançam no céu formando uma orquestra, música doce e afinada Nesta noite pegaria a lua com a mão, ia embora pra lá e plantaria um jardim de girassóis Depois volto à rotina e lembro que sou feliz. Simples desejo...

17:20

Tempo de travessia...


"(…)Para ti criarei um dia puro livre como o vento e repetido como o florir das ondas ordenadas. .."

15:25

Afeto

"Eis o melhor ... O meu termômetro, o meu quilate..."

13:20

Escritos




Escrevendo a gente inventa
Inventa um amor
Inventa uma saudade
Inventa uma mentira
Escrevendo a gente faz história
E se descobre
Escrevo para espantar o mundo.
Para acabar com essa idéia tola
De que existe o certo e o errado
O feio e o bonito
Cada um vê com seus olhos
Escrevo para espantar os males
Para espantar os medos
Para espantar o espanto
Escrevo para plagiar a beleza e seduzir o simples
Ao que parece, padeço.

Eu simplesmente amo escrever...É uma forma de colocar pra fora sentimentos que ficam guardados, palavras que não podem ser ditas, anseios, expectativas, coisas que as vezes você não consegue definir bem mas que depois de escritas se tornam mais fáceis, mais simples. Funciona como uma boa terapia...

12:41

Você me faz perder
a pose
a calma
o sono...
Você me faz perder
a hora
o trem
a sorte
Você me faz perder
o rumo
o prumo
o tino....
.

12:14

Que gaúcha danada! Doidas e Santas



Essa mulher andou investigando a nossa vida! – teoria da minha amiga Viviane (hahaha). Adoro Martha Medeiros. Ela me fazer refletir, pensar que não é só comigo, que não sou tão doida, nem santa, quanto penso e que ainda tenho solução... Ufa, ainda bem. E como ela mesma escreveu: “O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.”. E tenho um pouco disso, muitas vezes deixei algumas coisas de lado, por pura falta de vontade. Mas que coisa? O que não me causa emoção. E é porque ela mexe comigo de várias formas, que resolvi escrever sobre ela. Tem sempre uma crônica, um poema que identifica uma parte de mim... Consigo me ver ali, em seus escritos, de alguma forma. Será que essa mulher mandou alguém nos seguir mesmo? Será que ela é algum tipo de Sherlock Holmes gaúcha de saias? Será que ela tem “olheiros” espalhados por aí? (hehehe). Acharam a teoria da Viviane exagerada? É a cara de uma ascendente em sagitário =). Na verdade acho que Martha Medeiros nos entende como ninguém porque é gente como a gente. Toda mulher de alguma forma conhece o que se passa no íntimo feminino e olha que somos complicadas... Pelo menos é o que dizem (minha opinião é que complicado mesmo é o ser humano em geral). Mas ela não se limita em descrever só o universo feminino... Descreve as pessoas, situações da vida, pensamentos mil em suas breves linhas, que não posso nem de longe chamar de mal traçadas. E tudo isso com uma pitadinha de humor. Ainda bem que ela tem o dom da escrita e sensibilidade para ver, e facilita o nosso entendimento e leitura para os que aí estão “atravancando o nosso caminho”, como diria Quintana. Lendo seus textos fica tudo tão mais claro e simples... Nós é que somos bobos em complicar. Mas por via das dúvidas a partir de hoje vou ficar de olho bem aberto pra ver se não tem ninguém nas minhas pegadas... Alguém suspeito usando um sobretudo, lupa... Essas coisas... ;) Alguém que pode ser até você. Faz tempo que encerrei meu primeiro Blog, as pessoas acessavam e me cobravam todas as histórias possíveis existente na humanidade. Amo história é minha vida ao deitar ao acordar está imersa dela. Mas! Licença eu não quero agradar ninguém, porque o espaço é meu. Que aprender história? Entra na minha sala de aula?Rsrs Ai sim, iremos mergulhar num universo sem fim, e sentir que ela está dentro e fora de mim.


" .. Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar 'the big one', aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais... Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo?

Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascinante.

Nossa insanidade tem nome: chama-se vontade Vontade de Viver até a Última gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só sendo louca de pedra."

Trecho da crônica "Doidas e Santas" - MARTHA MEDEIROS


06:46

Bela flor




Chora bela flor,


Deixa escorrer de ti todo esse mal aprisionado em teu peito
Deixa que os pingos de dor rolem pesados sob as imperfeições da tua pele
Deixando rastros de caminhos bailantes
no ritmo das batidas descompassadas desse teu coração

Não tenha medo bela flor,

Deixa que esse rio que habita em ti
venha ao mundo pela janela da tua alma
deixa que essa fonte jorre,
até sentir a seca rachar o solo do teu interior

Não se acanhe bela flor,

Não há mal em regar os sonhos desfeitos
nem é feio inundar o colo com pedaços de desilusão
Toda chuva que encharca,
também lava, limpa e leva pra longe


Sinta bela flor,

Sinta o gosto doce de veneno nas lágrimas que morrem em tua boca
e guarda esse gosto inconfundível para que não o proves mais
Teu rosto é hoje como pétala marcada
pelas gotas de orvalho da noite escura que passou

Transborda bela flor....

Tua tempestade vai chegar ao fim
e teu jardim, hoje regado de tristeza
amanhã ganhará adubo, vida e cores

Depressa
bela flor...Raios de sol estão a tua espera....

06:31

Elegia a uma pequena borboleta


Desde pequena eu amo este poema da querida Cecília.
Como hoje eu acordei menina, quis relembrá-lo e ficar triste de novo com a borboletinha...

Elegia a uma pequena borboleta

Como chegavas do casulo,
- inacabada seda viva! -
tuas antenas - fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,

como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho,
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeira,
com mais sonho e silêncio que asas,

minha mão tosca te agarrou
com uma dura, inocente culpa,
e é cinza de lua teu corpo,
meus dedos, sua sepultura.
Já desfeita e ainda palpitante,
expiras sem noção nenhuma.

Ó bordado do véu do dia,
transparente anêmona aérea!
Não leves meu rosto contigo:
leva o pranto que te celebra,
no olho precário em que te acabas,
meu remorso ajoelhado leva!

Choro a tua forma violada,
miraculosa, alva, divina,
criatura de pólen, de aragem,
diáfana pétala da vida!
Choro ter pesado em teu corpo
que no estame não pesaria.

Choro esta humana insuficiência:
_ a confusão dos nossos olhos,
- o selvagem peso do gesto,
- cegueira - ignorância - remotos
instintos súbitos - violências
que o sonho e a graça prostram mortos.

Pudesse a etéreos paraísos
ascender teu leve fantasma,
e meu coração penitente
ser a rosa desabrochada
para servir-te mel e aroma,
por toda a eternidade escrava!

E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
- os espelhos que refletissem
_ vôo e silêncio - os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!

(Cecília Meireles)

06:03

A FRASE




"Vou falar do que se chama experiência. É a experiência de pedir socorro e o socorro ser dado. Talvez valha a pena ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba."

(Clarice Lispector in: Água Viva)


O EFEITO:

E não há nada mais sagrado - ao menos em meu universo particular - que o SILÊNCIO.
Mudamente é que digo, tantas, tantas vezes, tantas coisas...
Deixar as entrelinhas cumprirem o seu importantíssimo papel é uma arte à qual venho me dedicando há anos.
O estranho e o incômodo disso é justamente o fato de que o mundo, meu Deus, anda TÃO despreparado para compreender - e, antes disso, aceitar - o silêncio!
Pessoas que falam de mais e ouvem de menos, preocupadas muito mais com suas agruras e aleluias pessoais que qualquer detalhezinho tolo e (aparentemente) irrelevante da vida do outro, do universo vizinho.
Aliás, cadê o outro?
Some em meio ao barulho e ao poluído da visão e da audição contemporâneas. Energias se confundem e se fundem numa coisa só, tão próxima, tão perto... do quê, mesmo?
Qualquer lugar DISTANTE, sem dúvida.
Distante daquilo que poderíamos chamar/considerar: o ideal.
Sim, estou mudamente pedindo.
Mudamente esperando receber.
O quê, meu Deus?

20:55

Por hoje é ...



Fica a sensação de cada passo foi medido, que cada detalhe foi deixado de lado. Até então eu nunca fui igual aos outros, nem quero ser. As vezes penso que minha trajetória, foi silenciosa demais, que cada compasso foi reduzido. Por hoje fica a sensação...

"Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer..."


20:44

Um pro outro


Amor vem de amor. Vem de longe, vem no escuro, brota que nem mato que dispensa cuidado e cresce com a mais remota chuva. [Guimarães Rosa]

Amor não cabe dentro do peito, guardado em gaveta ou no passado. Amor a gente vive, respira, dobra, molha, seca, dorme, acorda. Largando sereno. Amor vem da parte mais difícil e perdura. Fica verde depois das tempestades, é coisa que arrebata, derruba, vira chão pra pouso, ar pra respirar, água pra beber. É delicadeza violenta. Faz doer, grita e depois sorri. Amor vem de amor. Faz a gente viver. E sorrir bonito. Igual eu e ele.

20:33

Estranhamente me aqueço


Há uma confusão de sentimentos, uma desordem de pensamentos que resulta claramente entre o que foi, o que é e o que virá, ou não. Mesmo assim me sinto livre, mas não confortável, nem um pouco...

...
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos ou anos atrás
[cazuza]
.

De qualquer forma, em tempos estranhos assim, me agasalho ou deixo-me agasalhar. Por carência, tirei o cobertor do armário, que apesar dos rasgos é o que tem me aquecido e alimentado meus sonhos e inúmeros desalentos...

20:26

Poeira



E quando tudo silencia é quando mais temo. Não pelo o que pode vir depois das palavras, mas pela voz que grita aqui dentro sempre que algo quer sair e não tem força. Por que tudo aquilo que a gente não despenca na hora, forma uma nuvem cinza e faz chover no final. É por isso que eu espirro, pra mandar o cinza pra fora. Até o travesseiro cansa de tanta umidade e expulsa seu próprio dono e nem dormir a gente consegue mais... Vivo procurando o azul desses momentos que sempre querem ser cinza, porque sei que respirar ar fresquinho sem poeira, é muito mais saudável

20:22

Medos

Eles já não estão mais ao meu lado, cruzaram os braços e agora viajo só, como um pássaro
Mergulho em céu azul e rodopio em ventos que sempre me trazem alguma coisa ...
Umas frases pelo avesso, umas fotos rasgadas um maldito travesseiro...
Mas aqui em cima, me sinto segura, viajo com livros e doces enrolados na camiseta, quando canso, páro numa sombra, leio sem obrigação e termino o dia soprando bolhas de sabão que estouram fazendo cócegas, tenho vontade é de morar dentro delas...

20:15

Esse tal Caio Fernando Abreu


As vezes ele fala por mim, mesmo quando não quero falar nada, no meu infinito particular...

"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo..."

20:11

Um sopro de vida


Por que hoje, só Clarice me entenderia... "...Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. Mas ao mesmo tempo tudo é tão fugaz. Eu sempre fui e imediatamente não era mais. O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncio em mim." [clarice lispector]

20:09

E o que passou, calou. E o que virá, dirá...

19:14

Voz da noite


O sol se apaga.
De mansinho
a sombra cresce.
A voz da noite
diz, baixinho:
esquece... esquece...

.
[Helena Kolody]

19:04

Máscara

Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza, deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és…
.

[Caio F. Abreu]

18:56

Do que ainda não cresceu

Senhor dos ventos
que te trouxeram sem culpa
Deixando rastos de cheiro e de amor
Se um dia com ele for,
antes, não se esqueça.
Pra ser vento,
precisa nascer brisa !

18:51

O sol que nasce na minha cabeça


Precisei regar ervas daninhas pra carregar o sol na cabeça Desisti do que achava pouco essa coisa de ser, eu não, não sou muitas, trago no rosto um único perfil, mesmo mal acabado. Muitas em mim são as vontades, as brincadeiras, as santas, as guerreiras, as dores. Sou apenas o reflexo de todas elas. Tem dias que não quero ser nada e não temo, pois, aceito muito bem minhas misérias. Obedeço. O sol que nasce na minha cabeça morre nos meus pés, então conheço bem o início e fim das minhas coisas. Acho sábio tirar proveito das tantas que me fizeram cair e levantar. Aceito - as assim como as cores, como elas são

18:40

Calmaria e vendaval


Vendo o dia se apagando,
Vejo a noite amanhecer.

Um caminho a gente encontra,
Só questão de procurar.
Se uma reta tá no céu,
Uma curva tá no mar.
Só não se acha saída
Quando a morte vem levar
.
[Toquinho]

18:34

Simplicidade




Eu me considero simples.
Embora meus vários tipos de simplicidade às vezes se entrechoquem. Simples, mas não simplificada, nem simplifico os outros. Daí a pergunta, daí os equívocos.
[clarice lispestor]

18:24

Palavras



Ás vezes prefiro o silêncio, é mais bonito

Mas transpiro palavras
Por que não nasci pra dentro
E meu coração cheio, transborda
Tão bonito, tão feio
Num suor de palavras
Rezo... Danço... Canto... Voo...
Desbloqueio
Quando feio penso escuro
Mas também falo a bonita
Por que sou feita de cor
Palavras são transporte de pensamentos
E o silêncio,
o caminho

17:27

Cada instante


Amo a vida
Fascina-me o mistérios de existir
Quero viver a magia de cada instante,
Embriagar-me de alegria
Que importa a nuvem no horizonte
Chuva de amanhã?
Hoje o Sol inunda o meu dia!

[Helena Kolody]

17:17

Tá tudo azul


Eu sou filha da vontade
Pé no chão. Só um
Vontade de cantar para o mundo tudo o que eu não temo
Vou pra onde existe paixão. Sou movida pelo embalo de uma noite, um sol escaldante da manhã ou o batuque de um tambor qualquer
Porque eu gosto do que é vivo
Eu sou as duas faces de uma moeda só
Hoje estou feliz. Um dia choro, me quebro e desfaço, no outro, acordo sorriso e vontade de abraçar o mundo.
Assim,
eu vou

17:11

A vida da gente...


...pode ser uma bolha de sabão se a gente faz bastante força. Se a gente aprende a ser colorido, a voar livre, leve e alto até explodir bonito, sem muito barulho, deixando no ar uma gotinha de saudade [João Teimoso - Luiz Raul Machado]

16:54

Livre


Que a sorte me livre do mercado
e que me deixe
continuar fazendo (sem o saber)
fora de esquema
meu poema
inesperado
e que eu possa
cada vez mais desaprender
de pensar o pensado
e assim poder
reinventar o certo pelo errado
[Ferreira Gullar]

16:27

'Não se perca. Não se esqueça."

Ocupe o vazio, ataque as brechas, contorne o que ele defende, atinja-o onde ele não espera.

16:12

Antes de cair no sono profundo, eu quero ouvir o grito das borboletas.


Amor. Chuva. Frio.Tédio. Destino. Enfim...o de sempre.

16:49

Mergulhar


"Nada é mesmo o que parece ser... O mar de longe é azul, de perto é verde, por dentro, transparente. Aparentemente, tudo é diferente do que realmente é... Eis então o segredo para não julgar: ao invés de olhar o mar de longe, mergulhar!"

08:32

Sabe qual é meu sonho secreto?


Sabe qual é meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia. Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada. No entanto, sei que você está a cada dia que passa mais fugidio. E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir esse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita, sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então atuo por instinto, cansando-me facilmente.

E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.

Fernanda Young

17:37

Ne me quitte pas!

Maysa foi passional em todos os seus sentidos, amou demais, bebeu demais, tomou remédios demais e cantou belamente demais.

Image
ilustração Audrey Kawasaki
Uma mulher avessa a sua época que encantou o mundo e se desencantou. Tinha uma dor latente em seu peito que exalava em letras de lágrimas.

Marido e filho foram coadjuvantes nesta história, em sua passionalidade só havia espaço para um amor: a música.
Foi uma esposa displicente e uma mãe ausente, mas quem disse que uma mulher precisa desempenhar todos os papéis brilhantemente?

Cobranças de uma sociedade que não admite papéis nada convencionais, principalmente sendo uma mulher. Maysa foi transgressora, ousou, cantou com sua alma, sem máscaras, sem medo de dizer o que pensava e isto assustava.

O sucesso e a bebida não lhe permitiram dividir, a sugaram por completo. Havia egocentrismo sim, seu mundo e sentimentos eram mais importantes até que o seu próprio filho, mas quem não erra em suas tentativas de acertar. Por vezes, seu mundo caiu e como na letra da música...

15:15

ClariceANDO


Se os escritos dela mexem intensamente com você, se muitas passagens fazem todo o sentido e ficam dias ecoando aí dentro, se há uma energia proveniente dela que faz com que o seu ser obedeça ou fique em transe ou lança um incontrolável desafio de bancar esfinge que quer decifrar a si mesmo(a), os seres, os sentimentos, o mundo e ainda os deseja devorar...

"E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar."

16:56

“Um Sopro de Vida”



Sempre gostei de ler. Desde quando fui alfabetizada até hoje leio tudo o que me cai na mão. Estou sempre “lendo” um livro. Leio sobre assuntos variados e não saberia citar um autor favorito. Tenho vários favoritos. Ultimamente ando mais aventureira.Mas devo confessar que é raro eu não gostar de uma história. Gosto da leitura pelo simples prazer de ver as palavras, de imaginar o cenário, de participar de outras histórias ou de repensar alguns pontos - no caso de livros de não-ficção.

A familiaridade com os livros leva à um outro interesse: a escrita. Dos meus tempos de ginásio lembro das aulas “Técnicas de Redação”, encarada pela maioria dos alunos como “aula vaga”. Foram naquelas manhãs que eu percebi que brincar com as palavras, esticá-las, espremê-las, multiplicá-las, também era tão legal quanto ler. Era com prazer que encarava os temas que a professora indicava e os elogios que recebi só me faziam gostar mais ainda das letras.

Minha auto-crítica sempre foi a mais severa e não ouso dizer que tenho talento para a coisa. O que sei é que gosto de escrever, pelo simples prazer de brincar com as palavras.

Quando a proposta única e exclusiva era ter um espaço virtual para escrever. Escrevi muita coisa. Coisas do cotidiano, coisas que passavam pela minha cabeça, coisas que achei que podia criar. A questão é que a escrita é exatamente como um exercício físico: quanto mais se pratica, mais facilidade se tem. Se não pratica, percebe-se “enferrujado” e o primeiro parágrafo depois de um período de ausência é sempre uma complicação.

Aos que me visitam esperando um diário virtual, sinto muito decepcioná-los. Não sou fã do estilinho “hoje fiz isso, isso e aquilo outro”. Quem vem aqui esperando encontrar uma " Bula histórica", enganou-se também, mas quem pensa em informações sobre a sensibilidade, cotidiano, o emocional, o imaginário, talvez seja um "prato cheio". Não porque eu seja a última edição do Guia 4 Rodas mas porque tudo isso faz parte da minha vida .E é isso que que tenho escrito é: um pouco da minha vida. De tudo um pouco e muitas coisas sobre nada.

Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo pois há segredos que não revelo: há muitos segredinhos primários que eu deixo que se mantenham em enigma. - Clarice Lispector em “Um Sopro de Vida”

16:21

Deusimar


Sempre gostei desse texto, revela-me um sentido amável e porque não dizer idealizado da profissão "ser professor". Abre veredas no meu íntimo. Quantas Deusimar tenho vsto por ai!
Quantas Deusimar precisaria existir? Tem coisas que surge de dentro para fora... Quantas Júlias! Jennifer, Gabriel, Mateus,Jéssicas. Thayane,Lívias, Sayron, Daniela,Wanessa, Higor,Ruan, Pyscilla,Ellen, Eduardo,Caio, João,Bruna,Rafael..São tanto! Nem sei se caberia aqui...


Deusimar

"Naquele tempo eu lecionava num daqueles oásis que nascem da cana e dela vivem. Vivem do seu corte para comer e de seu destilado para suportar. Só conheciam aquele lugar os que ali viviam, porém ninguém conhecia os que ali viviam. Talvez pelo mesmo e desconhecido motivo pelo qual os de lá gostavam do lugar, eu aprendi a gostar. Era a minha Pasárgada.

Tomava-se um ônibus improvável para chegar-se a lugar improvável. E enquanto o ônibus serpenteava por entre a selva monótona, eu era obrigada a filosofar porque os sacolejos não permitiam nem a leitura nem o crochê. Era um incômodo encontro entre eu e eu mesma. Um encontro na madrugada e no frio, onde o mau-humor esbofeteava a Poliana.

Na cabeça, num videoclip indignado, apareciam os políticos, a tocha humana chinesa que protestava contra algum chinês, o namorado que não ligou, o pai ranzinza e a mãe que não entendia. Esses fragmentos revoavam a cada curva de nível, e em seu lugar outros não menos irritadiços pousavam. Mas tudo isso fugia logo ao primeiro "bom- dia" na sala de professores.

Foi num dia desses que apareceu a Deusimar, assim, do nada. Bonita era porque era criança e não existe filhote feio. Digamos assim: Ninguém nunca se lembraria dela para um comercial da Parmalat... Os cabelos desgrenhados, os dentes permanentes natimortos e tinha esmalte nos dedinhos encardidos. Usava uma camiseta onde se liam um nome e um número. Presente do "Tio" que, de quatro em quatro anos, descobria que eram gente os dali e, porque gente são, votam.
Acontece que a Deusimar tinha um pai e o pai cortava cana. Cortava para a usina e a usina pagava o pai. O pai deu duas de cem para a mulher, uma de um para o filho, outra de um para Deusimar e ficou com a de cinqüenta porque ninguém é de ferro. O irmão pegou o dinheiro e logo comprou um pirulito grande e chato, daqueles que nem cabem na boca. Já a Deusimar, não. Ela comprou não um, mas dois, daqueles que vêm com um apito.

No recreio, eu me entretinha com uma tangerina e ouvia a Manã contar a última do Paulinho quando ela veio. Esperou pacientemente o Paulinho cair da mangueira e depois disse com um fio de voz:
- Dona, ontem meu pai recebeu. Entãããoo, ele deu dinheiro pra mim e pro meu irmão. Entãããoo meu irmão comprou um pirulito grande. Eu não! Eu comprei dois pequenos. Um pra mim e um pra Dona. Tó.
E fugiu com suas perninhas de siriema.

Obrigada, Deusimar. Seu pirulito salvou os políticos, meu namorado, minha mãe e meu pai. Com o troco redimiu a humanidade. Felizmente os pirulitos valem mais que qualquer policial de Diadema ou queimador de pataxós, além de outras desgraças via satélite."

16:08

Poderás




Mas nunca poderás escrever uma palavra que não tenhas vivido.


16:03

Uma Palavra


Uma Palavra



"Palavra prima
Uma palavra só, a crua palavra
Que quer dizer
Tudo
Anterior ao entendimento, palavra

Palavra viva
Palavra com temperatura, palavra
Que se produz
Muda
Feita de luz mais que de vento, palavra
(...)
Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra
(...)"

( Chico Buarque)

17:33

Adeus


Parado junto ao mar,
Digo-te Adeus…
Adeus.

Olho á minha volta,
Tu já vais longe…
Longe.

Parado junto ao mar,
Grito o vazio que me deixas,
Os teus abraços… os lábios…
As palavras que deixo de ouvir,
As tuas palavras…

No brilho do mar que vem
Vão lágrimas no mar que vai,
Como o meu sorriso quando chegas
Ou a minha tristeza quando partes.

Gostei da imagem que fala de abraços. Este "pensamento" é sobretudo de saudade...e quem diz um abraço diz outra coisa qualquer...mas essencialmente quem escreveu tem saudades de uma relação que já passou e gostava de poder revivê-la (quando fala que trocava todos os abraços por um único)...e gostava que a outra pessoa também sentisse o mesmo...ou pelo menos também sentisse saudades como ele, quando diz que trocava mesmo esse abraço (tão importante para ele), pela saudade que queria que ela também sentisse.

18:39

As Pontes de Madison County


"Ainda que nunca mais tenham os voltado a nos falar, permanecemos unidos tão estreitamente como é possível que se unam duas pessoas. Não consigo encontrar as palavras para expressar da forma adequada. Ele o fez melhor quando me disse que tínhamos deixado de ser dois seres separados, e, em troca, nos tínhamos convertidos em um terceiro, formado pelos dois. Nenhum de nós dois existia independentemente deste ser. E esse ser ficou sem rumo." "Agora compreendo que o verdadeiro amor, aquele incondicional, verdadeiro, eterno, o que une almas gêmeas, espíritos afins... Isso é o amor que ultrapassa essa barreira efêmera de tempo e espaço, não necessariamente estará ao seu lado fisicamente até os fins de sua vida terrena; mas com certeza estará gravado em sua alma... em seu coração...." Na verdade, embora longe um do outro, eles jamais se separaram.Porque para eles, o tempo parou naqueles poucos dias e os dois estavam em sintonia onde quer que estivessem. Certamente reviveram e sentiram na pele e principalmente na alma que, quando dois seres que se amam em espírito nunca se esquecem. É nesse amor de almas que eu acredito, todos temos a nossa metade, e num dia qualquer cruzamos com ela em nosso caminho. Não se separam, porque um amor assim é eterno! É um amor que ultrapassa as barreiras por mais instrnsponíveis que possam parecer. Os olhos da alma jamais se apagam.
Madison County, 07 de janeiro de 1987

Queridos Filhos,
Ainda que me sinta bem, creio que é hora de por minhas coisas em ordem. Existe algo muito importante, que vocês devem saber.

Para mim é difícil escrever isto a meus próprios filhos, mas devo fazê-lo. Aqui há algo que é demasiadamente forte, demasiadamente belo, para que morra comigo.

Como já descobriram, se chamava Robert Kincaid. Era fotógrafo e esteve aqui em 1965, fotografando as pontes cobertas. Recordam como a cidade estava emocionada quando as fotos apareceram no National Geographic? Recordam também que por essa época comecei a receber a revista. Agora conhecem o motivo de meu repentino interesse. A propósito eu estava com ele (levando uma das mochilas com as câmaras), quando tomou a foto da ponte Cedar.

Entendem que amei ao pai de vocês de uma maneira tranqüila. Ele foi bom comigo e me deu vocês dois a quem amo muito. Não o esqueçam. Mas Robert Kincaid foi muito diferente. A primeira vez que o vi foi quando me pediu orientação para chegar a ponte Roseman. Vocês e seu pai estavam na Feira Estadual de Illinois. Creia-me, eu não andava buscando nenhuma aventura. Isso era a última coisa que ocupava minha mente. Mas ao mirá-lo soube que o desejava, ainda que não tanto como cheguei a desejá-lo depois.

Ele era um pouco tímido, e eu tive tudo a ver com o que passou como ele. A nota guardada junto com sua pulseira é a que eu preguei na ponte Roseman para que ele a visse, na manhã depois de conhecermos. As fotos minhas que ele conservava foram as única prova que ele teve, ao longo dos anos, de que eu existia, de que não era algum sonho que ele havia tido.

Em nossa velha cozinha, Robert e eu passamos horas juntos. Falamos e dançamos a luz das velas. E, sim, fizemos amor ali e no dormitório e no jardim e em qualquer outro lugar que pensem. Era uma relação incrível, poderosa, transcendente, e continuou durante dias, quase sem parar. Sempre tenho empregado a palavra forte ao pensar nele.

Porque assim era quando nos conhecemos. Era como uma flecha na sua intensidade.

Filhos, compreendam que trato de expressar algo que não se pode dizer com palavras. Só desejo que algum dia os dois possam viver o que eu experimentei.

Se não fosse por seu pai e por vocês, eu teria ido a qualquer lugar com ele. Ele me pediu, me suplicou que o acompanhasse. Mas eu não pude fazê-lo e ele era uma pessoa muito sensível e afetuosa para nunca interferir nas nossas vidas.

O paradoxo é que se não houvera sido por Robert, não estou segura de ter podido permanecer na granja por todos esses anos. Em quatro dias me deu toda uma vida, um universo, e uniu em uma só as partes separadas de mim. Nunca tenho deixado de pensar nele, nem por um momento. ainda quando não se achava em minha mente consciente, o sentia em alguma parte, estava sempre ali.

Mas isso nunca diminuiu o que sentia por vocês dois e pelo seu pai. Ao pensar só em mim por um momento, não estou segura de ter tomado a decisão correta. Mas tendo em conta a família, creio com bastante certeza que sim.

Não quero que sintam culpa ou lástima por nós. Só quero que saibam o quanto amei a Robert Kincaid. Eu o senti dia após dia, durante todos estes anos, o mesmo que ele.

Ainda que nunca mais tenhamos voltado a nos falar, permanecemos unidos tão estreitamente como é possível que se unam duas pessoas. Não consigo encontrar as palavras para expressar da forma adequada. Ele o fez melhor quando me disse que tínhamos deixado de ser dois seres separados, e, em troca, nos tínhamos convertidos em um terceiro, formado pelos dois. Nenhum de nós dois existia independentemente deste ser. E esse ser ficou sem rumo.

Não me envergonho do que Robert e eu vivemos juntos. Eu o amei desesperadamente durante todos esses anos, ainda que, por minhas próprias razões, somente uma vez tratei de entrar em contato com ele. Foi depois da morte de seu pai. O intento fracassou e temi que houvesse acontecido algo. Assim nunca mais voltei a tentá-lo, por causa desse medo. Simplesmente não podia enfrentar essa realidade. De maneira que agora podem imaginar o que senti quando soube da sua morte.

Como disse, espero que compreendam e não pensem mal de mim. Se me amam, devem amar o que fiz. Robert Kincaid me mostrou como era ser mulher de um modo que poucas mulheres experimentaram. Era atraente e carinhoso, e por certo merece o respeito e talvez o amor de vocês. Espero que possam dar-lhe as duas coisas. A seu próprio modo, através de mim, ele foi bom com vocês.
Que sejam felizes, meus filhos.

Mamãe

"Quando assisti a esse filme (As Pontes de Madison Count), tive contato com uma situação que naquela época era totalmente irreal para mim... Uma situação completamente impensável, mas tinha algo nela de "dejà vu" que me incomodou muito... Como se fosse um insight do que me reservava o futuro... Hoje, vários anos depois, eu entendo perfeitamente os sentimentos e a opção feita por Francesca. Ela tinha que optar pelo amor por um (o grande amor de sua vida) para o amor por muitos (marido e filhos). Agora compreendo que o verdadeiro amor, aquele incondicional, verdadeiro, eterno, o que une almas gêmeas, espíritos afins... Isso é o amor que ultrapassa essa barreira efêmera de tempo e espaço, não necessariamente estará ao seu lado fisicamente até os fins de sua vida terrena; mas com certeza estará gravado em sua alma... em seu coração...."

18:31

Perdas


"Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização"
Lya Luft