18:06

Todas as águas de Lúcio Lins



“(...) o que sei do tempo é que hoje tem mais ontem” (Lúcio Lins)

Criatura de alma limpa e coração colorido, saudade de suas lembranças!


Todas as águas de Lúcio Lins & as velas de abril

Por Luiz Alberto Machado

“(...) o que sei do tempo é que hoje tem mais ontem” (Lúcio Lins)


Mesmo sendo um menino nascido na beira do rio Una, o mar sempre me chamou atenção. Um misto entre simpatia, fascínio e temor. Nunca aprendi a nadar direito, nem nunca tive muita afinidade com peixe nem com bicho nenhum. Mas o bramir do mar, as ondas nas praias, o vento nas belezas paradisíacas, o movimento das marés, tudo isso sempre me levou a sensações inenarráveis. E, por isso, me confesso apaixonado e seduzido pelo mar, como diz Djavan: “O mar vazou de uma paixão, atravessou os meus olhos e leu a minha mão...”.

Credito ao fato de, desde a infância até a adolescência, todo final de semana meu pai levando a gente para Barra Grande, nas Alagoas. Ou mesmo para São José da Coroa Grande ou Tamandaré, em Pernambuco. O mar, sempre o mar. Também, pudera, deve ter sido por causa das aventuras infanto-juvenis sempre voltadas para os épicos gregos, Odisséia e A Ilíada de Homero, Os Lusíadas de Camões, Robinson Crusoé, as viagens marítimas de Julio Verne, O Velho e o Mar de Hemingway, as narrativas de Jorge Amado, as canções de Dorival Caymmi, “(...) é doce morrer no mar”, a ciranda de Lia de Itamaracá, essas coisas. Sempre fui seduzido pelas viagens e o mar remete a navegações imensuráveis. E também por procurar na beira das praias uma garrafa contendo uma mensagem vinda de algum suicida de alhures. Quem sabe, algum segredo irrevelável. Também preciso considerar que morei alguns anos em Boa Viagem, no Recife. Depois, na Ponta Verde e Mangabeiras, em Maceió. Sempre o mar. Coincidências de sempre. Até quando viajei para Fortaleza, me aboletei na Volta da Jurema, Meirelles. De lá, um salto para Mucuripe, ou Iracema. Até Barra do Ceará ou Praia do Futuro. Em Natal, na Praia dos Artistas ou percorrendo toda Rota do Sol. Em Aracaju, em Atalaia Velha. Em Salvador, todo litoral soteropolitano, até Itapoã; “(...) É bom passar uma tarde em Itapoã, ouvindo o mar de Itapoã, falar de amor em Itapoã” e por aí vai.

Um dia cheguei em Tambaú. Isso alguns bocados de anos atrás. Foi lá, exatamente em Tambaú quando me deparei com a poesia maravilhosa, simplicíssima, contundente e natural de Lúcio Lins.

Foi quando fiquei sabendo que Lúcio Lins era poeta integrante do movimento de vanguarda paraibano, Jaguaribe Carne. Um poeta bacharel em Direito, senhor das palavras, da poesia: “(...) toda palavra serve à poesia”. Autor dos livros “Lado que cavo que covas”, de 1982, “As lãs da insonia”, de 1991, “Perdidos astrolábios”, de 1999 e “Histórias flutuantes – 25 anos de poesia”.

Em sua homenagem, foi publicado o livro “Todas as águas” reunindo suas obras publicadas, além de inéditos e inacabados, parcerias musicais, rabiscos do poeta, memória fotográfica e um posfácio.

No “Lado que cavo que covas”, lançado em 1982 pela Editora Universitária, destaco “Frevo destino”:

Nenhuma banda
De nenhum lado
Somos os dobrados
De um desatino
Somos a marcha
No desafino
Vivendo a rua
Frevo destino

No “As lãs da insônia”, lançado em 1991, pela Editora Idéia, destaco “História flutuante”:

Não tenho horizontes
Tenho sonhos à vela
E a tempestade da história
Não tenho mapas
Tenho cartas anônimas
E os gritos de seus náufragos
Não tenho mares
Tenho a garganta seca
E as palavras navegáveis

Também merece destaque “Passeios pelo tempo (2)”:

Somos
Muitos mil anos
De uma só palavra
E vários idiomas
Seremos
Mais tempo e ainda
Exercício de línguas
Com o mesmo engano

Em “Perdidos astrolábios”, lançado em 1999, pela Editora Universitária, dentre outras, destaco “O colecionador de cores”:

Tinha tudo pra ser feliz:
Carro zero, AP quitado,
Posição nascente sul, fazia malhação
Nas terças, falava fluentemente
Dois idiomas, além do correto português.
Tinha tudo pra ser feliz,
Até o dia em que, sem perceber
Que era daltônico,
Decidiu colecionar cores
E morreu atropelado
Sob o vermelho de um semáforo.

Nos “Inéditos & inacabados”, uma leitura imperdível de “Veloz cidade”:

(...) fecho as janelas do mundo
abro
a porta do quarto
e vou à vida
rápido
rápido
muito rápido
eu já estou
do outro lado da rua
e a vida só dura
um abrir
e fechar de semáforos

Nas parcerias musicais, estão as com Chico Cézar, Eleonora Falcone, Byaya, Mestre Fubá, Zé Wagner, Xisto Medeiros, Salvador Alcântara, Chico Viola, Paulo Ró, Pedro Osmar, Adeildo Vieira, Kennedy Costa e Erivan Araújo.

Na “Memória Fotográfica”, fotos do poeta com a família, com Elba Ramalho, com Chico Cezar, na militância, no futebol, nos eventos e na vida.

Por fim, um texto escrito pela professora de Literatura da Universidade de Bordeaux III, da França, Magdelaine Ribeiro, sobre o poema “Águas de beber” de Lucio Lins, onde ela ressalta que: “(...) No imaginário do poeta Lucio Lins, o poien tem, freqüentemente aliás, parte ligada com a aventura oceanica que o representa (...) Pois o mar, é a palavra mar – um oceano de palavras – sobre o qual se aventura o poeta”.

Acerca da obra de Lucio Lins, escreveu o professor que é mestre em Literatura Brasileira, critico literário, escritor, poeta e jornalista Hildeberto Barbosa Filho no prefácio do livro “Todas as águas”: “(...) A atitude de labor, o exercício típico do artesanato, a contínua seletividade de uma posição metalingüística se instalam de modo decisivo no seu processo de criação literária. A forma poética, por conseguinte, é forma que se inventa e que se reinventa na persistente dialética entre o que e o como dizer, sempre no tentâmen de ajustar a idéia, a temática, a percepção, enfim, a sensibilidade à concreção da imagem, à maleabilidade do ritmo, à propriedade da linguagem. (...) Em Lúcio Lins, a preocupação com a forma, naquilo que ela reivindica de rigor e precisão, não elide uma componente central de sua dicção, um fator fundamental que o afasta definitivamente daqueles que transformam a linguagem poética num estranho idioma só para iniciados, ou fazem das metáforas e de outros recursos retóricos um indevassável dicionário de hermetismos e pirotecnias verbais. Penso, aqui, na força intuitiva dos seus versos, no lastro afetual e sensível que lhes dão sustentabilidade lírica, no surpreendente poder inventivo de suas imagens e na predisposição melódica de suas palavras. (...) De outra parte, é preciso atentar para a simplicidade do vocabulário desta poesia. As palavras do poeta Lucio Lins são as palavras de todos, fazem parte do universo da coloqualidade, transitam facilmente pelas ruas e avenidas da fala de qualquer um e, sobretudo, articulam-se, organizam-se, arrumam-se, acariciam-se, atritam-se, interpenetram-se, sem que violem o princípio fundante da funcionalidade poética. (...) Em outras ocasiões – e foram tantas! – sempre sinalizei para a dimensão triádica ou tridimensional da poesia de Lucio Lins, considerado o universo de suas representações”.

Já o professor universitário, doutor em Literatura Brasileira, escritor e poeta Sérgio de Castro Pinto, escreve que: “(...) Lucio Lins pertencia a essa fauna de poetas que enxergam a poesia em tudo, talvez, quem sabe, por ter ele próprio levado uma vida simples, sem pompas e sem ostentações”.

A professora Aglaé Fernandes escreveu: “(...) Lúcio conhecia a alma humana e parece que nada lhe chocava ou aborrecia. Tinha sempre uma atitude de quem compreende, perdoa e não se ressente de absolutamente nada, nem ninguém. O fato de despejar na poesia toda a fragilidade e vulnerabilidade humana, livrava-o de qualquer sentimento mesquinho. Valorizava, com seu olhar sempre muito positivo, todos os pequenos detalhes das coisas e das pessoas. Como era forte e poderosa a sua essência”.

O jornalista, poeta e escritor Edônio Alves Nascimento: “(...) Lúcio literalmente quer dizer “luz”, falemos do seu generoso e intenso brilho particular, da sua figura humana ímpar e irrequieta; da sua imensa e incompreendida capacidade de amar os seus; do seu doce e embriagante espírito infantil, enfim; da sua aposta radical no sonho do supremo impossível, que é o que alimenta todo poeta de verdade, na sua ânsia incompreendida de recriar esta vida insuficiente e precária a par da mais atávica e primeva arma de que dispomos: a palavra, na sua materialidade discursiva e humana. É que Lúcio Lins era poeta no sentido maior do termo, poeta da vida e poeta do texto, a ponto de costumeiramente confundir a todos nós que primavam da sua amizade no quando estava poetando, no sentido literário; ou no quando estava fazendo poesia, no sentido existencial. Nele uma dimensão sempre comportava a outra (vida e poesia não se separavam), num processo visceral que conduzia usufruindo de todos os seus elementos constitutivos e essenciais”.

Também captamos o texto do poeta gaúcho radicado há anos na Paraíba, Lau Siqueira, que expressa: “Lúcio Lins é um poeta raro. Sabe como poucos extrair poesia das ruas. E ainda sobra em versos para soltar as tarrafas de uma dicção que transcende a fronteira dos mares, de Camões à Pessoa. É um poeta de imagens forjadas na algibeira do tempo, tragando a experiência única da existência como um náufrago que chegou à praia e, cuja sede inventa sempre um novo barco. Herdeiro do curtume cabralino, vai tecendo imagens de beleza absoluta. Talvez por isso seja um poeta cujos versos vão, lentamente, perpetuando-se na memória oxidada do tempo. Paraibano da capital, publicou seu primeiro livro ("Lado que cavo/que covas") no início da década de oitenta. Dez anos após, ressurgiu novamente em nova edição com "As lãs da insônia". De lá para cá, não apenas por "Perdidos Astrolábios", Lúcio é só poesia. Tornou-se, então, o poeta do nosso cotidiano. É como se tivesse optado por subverter o ato contínuo da linguagem. Lúcio é o poeta das imagens exatas, das metáforas colhidas no sumidouro das noites de boemia, entre braços, pernas e bocas que se perdem nas canções do infinito. Observador atento das imensidões e do imperceptível, pescador de inventos, é capaz de fotografar o mapa desta cidade-falésia com percepções imagéticas como. "extremo Cabo Branco/ estranho trampolim/ ao contemplar o Atlântico/ o mar mergulha em mim". É, também, o poeta das inexatidões da lógica e das formalidades. Respira poesia. E pensa o que respira. Diria que se trata de um poeta em Pessoa: "até o que sente em mim está pensando". Lembro, em tempo, o ensaio de Jean-Claude Carrière, "Juventude dos mitos", publicado no Brasil pela Cia. das Letras no livro "O Olhar de Orfeu ¿ os mitos literários do Ocidente" (organizado por Bernadette Bricout). Lúcio traduz com percepção poundiana os mitos da tradição literária ocidental, para derramar-se em versos despidos de adjetivações e na construção de poemas que me lembram Silvana Guimarães, poeta e ficcionista das bandas de Minas, dizendo: "a palavra certa no lugar exato". Lúcio Lins, senhor dos mares, corsário em busca dos tesouros do encantamento, em cada verso, cumpre a sua jornada na sua incansável busca pela maior utopia de todo poeta: a poesia”.

A poesia de Lúcio Lins é verdadeiramente ímpar e meritória da atenção de todos. Tanto é que também merece registro da homenagem feita pela sua irmã e poeta, Valquiria Lins, dedicando-lhe o livro “Velas de abril” que, segundo Sergio de Castro Pinto, nas orelhas do volume, assinala: “Valquiria Lins achou por bem estabelecer um diálogo com os poemas que compõem “Perdidos astrolábios” de Lucio Lins. E o faz nesse “Velas de abril”, cujo título remonta à morte de Lúcio, ocorrida justamente em abril. (...) Valquiria escreveu esses poemas sob a égide da saudade, da ausência do irmão-poeta de todos os instantes”.

Valquiria Lins além de irmã do poeta, tem formação em Letras e já publicou “Outono”, pela Editora Idéia, em 1997 e “Humus”, pela editora Sal da Terra, em 1998. O seu terceiro livro de poesias, este “Velas de Abril”, foi publicado em 2006 pela Editora Universitária, merecendo destaque o poema-título incluído no volume:

Nas Velas Brancas deste abril
Sob funestas chamas incensadas
Cruzo o limite verde-azul nas verdes águas
Abraço o pálido dessa pálida tão gentil

Nas Velas Brancas deste abril
Além do corpo, do barco e das cruzadas
Sou corsário do eterno dessas águas
Sou refluxo dessa pálida tão servil

Ainda em chama as brancas velas tão oradas
E o congelado de lágrimas derramadas
Em mim ficaram e ninguém viu

Tudo levei para o limite do meu mar
Fiquei com o Nada nas águas a boiar
Vendo passar-me nas Velas de Abril.

E também “Pretéritos”:

Todos os
Pretéritos
Eram perfeitos
Depois que fui.

No posfácio do livro, o professor mestre Gilberto de Sousa Lucena observa: “Já em seu título, esse terceiro livro de Valquiria Lins nos sugere ambiguamente duas dimensões que se vinculam à poesia (que nunca deixou de cantar o mar), à vida e morte do poeta Lucio Lins, irmão da autora. (...) Aliando a pungente homenagem ao poeta ausente, sem deixar de estabelecer um especial e particular dialogo com sua poesia, Valquiria Lins também exercita o lirismo que se vincula a uma experiência de vida onde as inquietações de cidadã e da mulher se revelam diante de uma consciência de que o mundo em sua volta não nos poupa dos reveses. A começar pela ausência do ente querido que, embora tenha partido, pode oferecer a inspiração para novos poemas (o que inclusive torna viva uma influencia a perenizar sua poesia). Ou mesmo os desencontros e decepções pela vida que – todos nós um dia experimentamos ou haveremos de experimentar – para a poetisa representam alentada matéria de suas páginas cheias de uma poesia pungente, é bem verdade, mas que agrada pela sua inventividade e sinceridade, num fluir de imagens construídas para emocionar o sensível leitor que, certamente, poderá compreender e se identificar com a mensagem geral desse Velas de Abril”.

Os dois livros, portanto, merecem aplausos. E leituras, claro.

Por fim, merece registro a Casa da Cultura Lucio Lins, um centro cultural onde acontecem eventos como: lançamentos de livros, CDs, shows, raves e festivais. O nome é uma homenagem a um grande poeta paraibano.

Nesta homenagem, meus aplausos a Lúcia Lins e Valquíria Lins!


Duas margens
quando o tempo
me cobrir os céus
com a anágua suja
da tua espera
e teus lábios
forem duas margens
um
gritando calmaria
outro
clamando tempestade
eu voltarei
de corpo e barco
e por ti
seguirei minha viagem
navegarei
entre teus braços
e segredos
eu
serei teu búzio
tu
serás o meu degredo

(Poema musicado por Chico César)

Cabo branco

extremo Cabo Branco
estranho trampolim
ao contemplar o Atlântico
o mar mergulha em mim

Memória das águas

sei do mar
do seu sal
suas palavras naus
e toda paisagem
uma vista de Portugal
sei do mar
do seu longe
sua história mangue
e o mergulho das ondas
numa linguagem lusitana
sei do mar
que o mar
ainda é um silêncio
e a palavra mar
um oceano de palavras

Maria das águas

eu sou
Maria das Águas
nome e fado
que a mim
me foram dados
pelo movimento
dos barcos
eu sou
Maria das Águas
desde Maria menina
quando só Maria
e ainda
pelo mangue
sob os céus
brincava
de transportar nuvens
em barcos de papel
dos meus nada sei
salvo o talvez
tenham ido
nos barcos de antes
e tenho uma vaga
na lembrança
que ainda de laços
sargaços e tranças
já tentava esse mar
sem ser de mais dadas
a cada maré que vinha
Maria eu ia
tomando corpo
e o cais tomando gosto
pelos prazeres Maria
que ao porto fui servindo
antes do vinho
da primeira sangria
e foram tantos
quantos os barcos
que a mim me chegaram
com suas almas
nos mastros hasteadas
e foram tantos
quantos os barcos
que em mim me deixaram
sem velas
e com enjôo dos mares
me chegavam
com suas falas diferentes
com seus falos urgentes
e me vestiam a rigor
para suas fantasias
eu me despia
eu me vestia
eu me trocava
(enquanto suas mãos
em meu corpo faziam cruzeiros
eu contava as estrelas)
onde sou lodo
fui veludo
leito de tantos deleites
pelos quatro cantos
do porto
para os quatro cantos
do mundo
confesso que vivi
confesso que bebi
goles e goles de mar
até o mar derradeiro
até saber-me sozinha
até beber-me Maria
garrafa sem mensagem
de mim
todos os barcos já partiram
e sou só ruínas
de um corpo antigo
onde marujos saciaram
suas sedes
aos beijos no gargalo
de minha boca
resta em mim
o que esqueceram
em mim
as marcas de mastros e dentes
a ferrugem das âncoras tatuadas
um iceberg no copo d'água
e o endereço de um mar
veio de mim
esse mar
que hoje bebe
veio de mim
esse mar
de amar sobejo
veio de mim
ser de Maria
Maria das Águas
Maria que canto
com olhos
que olhos d'água
e quando rio
eu rio doce
orvalho na lágrima

(Do livro História Flutuante)

lado que cavo/ que covas

quando de um lado
cavo
de um outro
covas
é no cimento armado
armando
a arquitetura prolixa
de não sobre sim sobre não
quando de um lado
cavo
covas
de um outro

morte absoluta
quando morto
aos cães
sirvam-me os ossos
aos urubus
sirvam-me a carne
sirvam-me a mim
o meu silêncio
e apaguem-me o nome
para que eu morra
em absoluto

passagem

olha que eu sol ignorante
e venho do profundo oceano
das coisas que não sei
e me faço luz para que claro
fique que nada saberei
senão mergulhar no espaço
na espera do ocaso de todo
este encontro com um raio
dessa luz que ainda é minha

(Do livro Lado que cavas/que covas)

0 comentários: