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Flor paraibana: Violeta Formiga


VIOLETA FORMIGA E O DESEJO DE SER PÁSSARO

As pessoas não morrem, ficam encantadas.
(João Guimarães Rosa)
Violeta de Lourdes Gonçalves Formiga nasceu na cidade de Pombal (PB), no dia 28 de maio de 1951 e foi brutalmente assassinada no dia 21 de agosto de 1982. Este ano completa 25 anos de seu encantamento. Poeta e psicóloga, Violeta era uma alma sensível e teve forte atuação nas letras paraibanas, publicando poemas no “Correio das Artes” e em outros suplementos literários. Em 1981, lançou, na Galeria Gamela, Contra Cena. Sensações, publicado em 1983, é uma edição póstuma.
A poesia de Violeta Formiga denota uma profunda paixão pela vida. Os poemas são curtos, versos simples, com destaque para os aspectos da vida cotidiana. O crítico literário Hildeberto Barbosa Filho ressalta que a poesia de Violeta é lírica e confessional, mas não resvala para o subjetivismo, é uma poética que se centraliza no emissor, no “eu - lírico”.
Na edição do livro Sensações, vários poetas e amigos registraram depoimentos que ressaltam o valor de sua poesia e seu modo descontraído de ver e sentir o mundo. Através desses depoimentos, podemos traçar um retrato físico e psicológico da poeta.
Altemir Garcia revela a frialdade do assassino com estas palavras:
... Depois nem lavou as mãos. Ligou a vitrola e foi escutar Brahms.
Anco Márcio destaca o local escolhido para alojar a bala assassina:
... Logo no coração. Meu Deus, no lugar onde ela guardava todo o seu estoque de poesia e ternura.
Carlos Tavares vislumbra a força da poesia de Violeta:
E Violeta fez questão de gritar e gesticular pra todo mundo com suas estrofes, versos prontos e reticências.
Cláudio Limeira chama a atenção para a musicalidade dos versos da poesia de Violeta:
... Cante a última canção sem viola.
O jornalista e cronista Evandro Nóbrega faz uma descrição física de Violeta, destacando a morenez e o brilho do olhar:
Morena, com um quê de boneca ágil, pequena, sorridente, bonita a seu jeito, pulsante de cor e energia. Os olhos, os olhos pretos, vivos penetrantes, prazenteiros, joviais.
O cronista Francisco Pereira Nóbrega rememora uma frase dita por Violeta que é um reflexo de sua maneira de ser:
Violeta, onde estiver, estará repetindo a primeira frase que me disse: “deixaram a gaiola aberta, o passarinho voou. Achei foi bom”.
Nelson Tangerini (RJ) louva a poeta e a poesia com essa contundente afirmativa:
Aos artistas, a pena, a arte... aos incompetentes, as armas.
O tenente Lucena instiga as mulheres paraibanas a adotarem a violeta como símbolo:
Mulher paraibana adote a violeta como símbolo.
O desejo de ser pássaro aparece em alguns de seus poemas e Dádiva representa bem esse desejo:
Ser pássaro
e voar infinito.
(Que seja este
o meu último
castigo)
Para conhecer a poesia de Violeta Formiga é recomendável viajar pelos seus versos, diminutos em quantidade, mas ricos em qualidade literária. A leitura dos poemas que figuram nos dois livros de poesias – Contra Cena e Sensações – permite que o leitor mergulhe no universo poético dessa pombalense de vida breve, mas que soube, com seu canto, mesmo sem viola, atravessar as fronteiras da Paraíba.
Os livros de Violeta Formiga não foram mais reeditados, só é possível encontrá-los em bibliotecas ou em sebos. O impacto da morte de Violeta suscitou
depoimentos pungentes,tudo não pode cair no esquecimento, é necessário que a sua poesia seja revisitada através da reedição de seus livros.
• Neide Medeiros Santos é professora e crítica literária.
• Este texto foi publicado no jornal O Norte. João Pessoa, 21 de agosto de 2007, p. C3 e no Correio de Poesia. João Pessoa, setembro de 2007, No. 801

(Neide Medeiros Santos – ALANE/PB )

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