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Deusimar


Sempre gostei desse texto, revela-me um sentido amável e porque não dizer idealizado da profissão "ser professor". Abre veredas no meu íntimo. Quantas Deusimar tenho vsto por ai!
Quantas Deusimar precisaria existir? Tem coisas que surge de dentro para fora... Quantas Júlias! Jennifer, Gabriel, Mateus,Jéssicas. Thayane,Lívias, Sayron, Daniela,Wanessa, Higor,Ruan, Pyscilla,Ellen, Eduardo,Caio, João,Bruna,Rafael..São tanto! Nem sei se caberia aqui...


Deusimar

"Naquele tempo eu lecionava num daqueles oásis que nascem da cana e dela vivem. Vivem do seu corte para comer e de seu destilado para suportar. Só conheciam aquele lugar os que ali viviam, porém ninguém conhecia os que ali viviam. Talvez pelo mesmo e desconhecido motivo pelo qual os de lá gostavam do lugar, eu aprendi a gostar. Era a minha Pasárgada.

Tomava-se um ônibus improvável para chegar-se a lugar improvável. E enquanto o ônibus serpenteava por entre a selva monótona, eu era obrigada a filosofar porque os sacolejos não permitiam nem a leitura nem o crochê. Era um incômodo encontro entre eu e eu mesma. Um encontro na madrugada e no frio, onde o mau-humor esbofeteava a Poliana.

Na cabeça, num videoclip indignado, apareciam os políticos, a tocha humana chinesa que protestava contra algum chinês, o namorado que não ligou, o pai ranzinza e a mãe que não entendia. Esses fragmentos revoavam a cada curva de nível, e em seu lugar outros não menos irritadiços pousavam. Mas tudo isso fugia logo ao primeiro "bom- dia" na sala de professores.

Foi num dia desses que apareceu a Deusimar, assim, do nada. Bonita era porque era criança e não existe filhote feio. Digamos assim: Ninguém nunca se lembraria dela para um comercial da Parmalat... Os cabelos desgrenhados, os dentes permanentes natimortos e tinha esmalte nos dedinhos encardidos. Usava uma camiseta onde se liam um nome e um número. Presente do "Tio" que, de quatro em quatro anos, descobria que eram gente os dali e, porque gente são, votam.
Acontece que a Deusimar tinha um pai e o pai cortava cana. Cortava para a usina e a usina pagava o pai. O pai deu duas de cem para a mulher, uma de um para o filho, outra de um para Deusimar e ficou com a de cinqüenta porque ninguém é de ferro. O irmão pegou o dinheiro e logo comprou um pirulito grande e chato, daqueles que nem cabem na boca. Já a Deusimar, não. Ela comprou não um, mas dois, daqueles que vêm com um apito.

No recreio, eu me entretinha com uma tangerina e ouvia a Manã contar a última do Paulinho quando ela veio. Esperou pacientemente o Paulinho cair da mangueira e depois disse com um fio de voz:
- Dona, ontem meu pai recebeu. Entãããoo, ele deu dinheiro pra mim e pro meu irmão. Entãããoo meu irmão comprou um pirulito grande. Eu não! Eu comprei dois pequenos. Um pra mim e um pra Dona. Tó.
E fugiu com suas perninhas de siriema.

Obrigada, Deusimar. Seu pirulito salvou os políticos, meu namorado, minha mãe e meu pai. Com o troco redimiu a humanidade. Felizmente os pirulitos valem mais que qualquer policial de Diadema ou queimador de pataxós, além de outras desgraças via satélite."

4 comentários:

Unknown disse...

Pois é.. quantas Júlia! kkk³
Mais eu sei q vc gosta mais de mim do que das outras Geo.. pode confessar... kkk³

Amei o texto...
xD
Bjs Júlia

Unknown disse...

Rsrs
Júlia, você é demais.Sempre tão carinhosa comigo. Saudades
Beijos

Unknown disse...

Você merece esse carinho Geo..
:) e merece tudo de bom...
espero que vc seja muito feliz...
Tb estou morrendo de saudades.

Bjão
JÚLIA

Unknown disse...

A amizade é como música: duas cordas afinadas no mesmo tom vibram juntas. Acho que essa é a nossa amizade Geo... eu espero que seja (kkkkk')

Beijos,
Júlia
:)