Pensar e escrever sobre o ensino nos tempos atuais é tarefa árdua, porém
Não julgamos necessário tecer maiores comentários sobre o que deve ser
Finalizando, acreditamos que a busca pela melhoria contínua no ensino em nossos dias deve ser marcada por uma cumplicidade entre aluno e professor ,segundo a qual ambos, na qualidade de seres humanos, sujeitos a perfeições e imperfeições,comprometem-se a investir na sua qualificação, encarando um ao outro como um "cliente" ao qual um excelente serviço deve ser prestado. Agindo assim, estaremos conduzindo a nós mesmos e ao nosso próximo àquilo que, apesar de tão subjetivo, costumamos chamar felicidade. Entendemos, também, que para isso é necessário lançar mão de outro conceito subjetivo, o do amor, sem o qual dificilmente aprenderemos a aproveitar e desfrutar dos mistérios e oportunidades que nos são oferecidos ao longo da nossa existência.
Apensar de idealizado as reflexões citadas, lidar com o educando não chega a ser um trabalho árduo,porém lidarmos com o sistema corrosivo do cotidiano, quando falta ética e valores que desnorteiam o processo educativo é algo que muitas vezes independe da relação professor/educando.
Então sonhou, sonhou...
E perdeu a paz...
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais."
[Tom Jobim]
E tudo secou...
"(... )nunca mais ela seria apenas o que ela pensasse. Sua aparência final a ultrapassara e, superando-a, se agigantava serena.
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[clarice lispector]
Para quem não assistiu, no site do programa Sempre um papo, está disponível o vídeo do programa, vale a pena conferir. Particularmente já havia assistido a entrevista com Lia Luft e Luis Fernando Veríssimo.
É para isso que serve Adélia, para a gente conseguir explicar como ama....tá,tá...concordo, ela exagerou pros meus mil anos luz de cabeça na lua, mas ler de "amor" é sempre divino. "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis" ( Carlos Drummond de Andrade) Então nada melhor para começar uma segunda-feira.
Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele falo palavras como lanças
Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero
Por causa dele podem entalhar-me:
Sou de pedra sabão.
Alegre ou triste
Amor é a coisa que mais quero.
Escrevendo a gente inventa
Inventa um amor
Inventa uma saudade
Inventa uma mentira
Escrevendo a gente faz história
E se descobre
Escrevo para espantar o mundo.
Para acabar com essa idéia tola
De que existe o certo e o errado
O feio e o bonito
Cada um vê com seus olhos
Escrevo para espantar os males
Para espantar os medos
Para espantar o espanto
Escrevo para plagiar a beleza e seduzir o simples
Ao que parece, padeço.
Essa mulher andou investigando a nossa vida! – teoria da minha amiga Viviane (hahaha). Adoro Martha Medeiros. Ela me fazer refletir, pensar que não é só comigo, que não sou tão doida, nem santa, quanto penso e que ainda tenho solução... Ufa, ainda bem. E como ela mesma escreveu: “O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.”. E tenho um pouco disso, muitas vezes deixei algumas coisas de lado, por pura falta de vontade. Mas que coisa? O que não me causa emoção. E é porque ela mexe comigo de várias formas, que resolvi escrever sobre ela. Tem sempre uma crônica, um poema que identifica uma parte de mim... Consigo me ver ali, em seus escritos, de alguma forma. Será que essa mulher mandou alguém nos seguir mesmo? Será que ela é algum tipo de Sherlock Holmes gaúcha de saias? Será que ela tem “olheiros” espalhados por aí? (hehehe). Acharam a teoria da Viviane exagerada? É a cara de uma ascendente em sagitário =). Na verdade acho que Martha Medeiros nos entende como ninguém porque é gente como a gente. Toda mulher de alguma forma conhece o que se passa no íntimo feminino e olha que somos complicadas... Pelo menos é o que dizem (minha opinião é que complicado mesmo é o ser humano em geral). Mas ela não se limita em descrever só o universo feminino... Descreve as pessoas, situações da vida, pensamentos mil em suas breves linhas, que não posso nem de longe chamar de mal traçadas. E tudo isso com uma pitadinha de humor. Ainda bem que ela tem o dom da escrita e sensibilidade para ver, e facilita o nosso entendimento e leitura para os que aí estão “atravancando o nosso caminho”, como diria Quintana. Lendo seus textos fica tudo tão mais claro e simples... Nós é que somos bobos
Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascinante.
Nossa insanidade tem nome: chama-se vontade Vontade de Viver até a Última gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só sendo louca de pedra."
Trecho da crônica "Doidas e Santas" - MARTHA MEDEIROS
Chora bela flor,
Deixa escorrer de ti todo esse mal aprisionado em teu peito
Deixa que os pingos de dor rolem pesados sob as imperfeições da tua pele
Deixando rastros de caminhos bailantes
no ritmo das batidas descompassadas desse teu coração
Não tenha medo bela flor,
Deixa que esse rio que habita em ti
venha ao mundo pela janela da tua alma
deixa que essa fonte jorre,
até sentir a seca rachar o solo do teu interior
Não se acanhe bela flor,
Não há mal em regar os sonhos desfeitos
nem é feio inundar o colo com pedaços de desilusão
Toda chuva que encharca,
também lava, limpa e leva pra longe
Sinta bela flor,
Sinta o gosto doce de veneno nas lágrimas que morrem em tua boca
e guarda esse gosto inconfundível para que não o proves mais
Teu rosto é hoje como pétala marcada
pelas gotas de orvalho da noite escura que passou
Transborda bela flor....
Tua tempestade vai chegar ao fim
e teu jardim, hoje regado de tristeza
amanhã ganhará adubo, vida e cores
Depressa bela flor...Raios de sol estão a tua espera....
Desde pequena eu amo este poema da querida Cecília.
Como hoje eu acordei menina, quis relembrá-lo e ficar triste de novo com a borboletinha...
Elegia a uma pequena borboleta
Como chegavas do casulo,
- inacabada seda viva! -
tuas antenas - fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,
como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho,
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeira,
com mais sonho e silêncio que asas,
minha mão tosca te agarrou
com uma dura, inocente culpa,
e é cinza de lua teu corpo,
meus dedos, sua sepultura.
Já desfeita e ainda palpitante,
expiras sem noção nenhuma.
Ó bordado do véu do dia,
transparente anêmona aérea!
Não leves meu rosto contigo:
leva o pranto que te celebra,
no olho precário em que te acabas,
meu remorso ajoelhado leva!
Choro a tua forma violada,
miraculosa, alva, divina,
criatura de pólen, de aragem,
diáfana pétala da vida!
Choro ter pesado em teu corpo
que no estame não pesaria.
Choro esta humana insuficiência:
_ a confusão dos nossos olhos,
- o selvagem peso do gesto,
- cegueira - ignorância - remotos
instintos súbitos - violências
que o sonho e a graça prostram mortos.
Pudesse a etéreos paraísos
ascender teu leve fantasma,
e meu coração penitente
ser a rosa desabrochada
para servir-te mel e aroma,
por toda a eternidade escrava!
E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
- os espelhos que refletissem
_ vôo e silêncio - os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!
(Cecília Meireles)
"Vou falar do que se chama experiência. É a experiência de pedir socorro e o socorro ser dado. Talvez valha a pena ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba."
(Clarice Lispector in: Água Viva)
O EFEITO:
E não há nada mais sagrado - ao menos em meu universo particular - que o SILÊNCIO.
Mudamente é que digo, tantas, tantas vezes, tantas coisas...
Deixar as entrelinhas cumprirem o seu importantíssimo papel é uma arte à qual venho me dedicando há anos.
O estranho e o incômodo disso é justamente o fato de que o mundo, meu Deus, anda TÃO despreparado para compreender - e, antes disso, aceitar - o silêncio!
Pessoas que falam de mais e ouvem de menos, preocupadas muito mais com suas agruras e aleluias pessoais que qualquer detalhezinho tolo e (aparentemente) irrelevante da vida do outro, do universo vizinho.
Aliás, cadê o outro?
Some em meio ao barulho e ao poluído da visão e da audição contemporâneas. Energias se confundem e se fundem numa coisa só, tão próxima, tão perto... do quê, mesmo?
Qualquer lugar DISTANTE, sem dúvida.
Distante daquilo que poderíamos chamar/considerar: o ideal.
Sim, estou mudamente pedindo.
Mudamente esperando receber.
O quê, meu Deus?
Fica a sensação de cada passo foi medido, que cada detalhe foi deixado de lado. Até então eu nunca fui igual aos outros, nem quero ser. As vezes penso que minha trajetória, foi silenciosa demais, que cada compasso foi reduzido. Por hoje fica a sensação...
"Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer..."
Amor vem de amor. Vem de longe, vem no escuro, brota que nem mato que dispensa cuidado e cresce com a mais remota chuva. [Guimarães Rosa]
Amor não cabe dentro do peito, guardado em gaveta ou no passado. Amor a gente vive, respira, dobra, molha, seca, dorme, acorda. Largando sereno. Amor vem da parte mais difícil e perdura. Fica verde depois das tempestades, é coisa que arrebata, derruba, vira chão pra pouso, ar pra respirar, água pra beber. É delicadeza violenta. Faz doer, grita e depois sorri. Amor vem de amor. Faz a gente viver. E sorrir bonito. Igual eu e ele.
Há uma confusão de sentimentos, uma desordem de pensamentos que resulta claramente entre o que foi, o que é e o que virá, ou não. Mesmo assim me sinto livre, mas não confortável, nem um pouco...
De qualquer forma, em tempos estranhos assim, me agasalho ou deixo-me agasalhar. Por carência, tirei o cobertor do armário, que apesar dos rasgos é o que tem me aquecido e alimentado meus sonhos e inúmeros desalentos...
E quando tudo silencia é quando mais temo. Não pelo o que pode vir depois das palavras, mas pela voz que grita aqui dentro sempre que algo quer sair e não tem força. Por que tudo aquilo que a gente não despenca na hora, forma uma nuvem cinza e faz chover no final. É por isso que eu espirro, pra mandar o cinza pra fora. Até o travesseiro cansa de tanta umidade e expulsa seu próprio dono e nem dormir a gente consegue mais... Vivo procurando o azul desses momentos que sempre querem ser cinza, porque sei que respirar ar fresquinho sem poeira, é muito mais saudável
Mergulho em céu azul e rodopio em ventos que sempre me trazem alguma coisa ...
Umas frases pelo avesso, umas fotos rasgadas um maldito travesseiro...
Mas aqui em cima, me sinto segura, viajo com livros e doces enrolados na camiseta, quando canso, páro numa sombra, leio sem obrigação e termino o dia soprando bolhas de sabão que estouram fazendo cócegas, tenho vontade é de morar dentro delas...
O sol se apaga.
De mansinho
a sombra cresce.
A voz da noite
diz, baixinho:
esquece... esquece...
.
[Helena Kolody]
Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza, deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és…
.
[Caio F. Abreu]
Senhor dos ventos
que te trouxeram sem culpa
Deixando rastos de cheiro e de amor
Se um dia com ele for,
antes, não se esqueça.
Pra ser vento,
precisa nascer brisa !
Precisei regar ervas daninhas pra carregar o sol na cabeça Desisti do que achava pouco essa coisa de ser, eu não, não sou muitas, trago no rosto um único perfil, mesmo mal acabado. Muitas em mim são as vontades, as brincadeiras, as santas, as guerreiras, as dores. Sou apenas o reflexo de todas elas. Tem dias que não quero ser nada e não temo, pois, aceito muito bem minhas misérias. Obedeço. O sol que nasce na minha cabeça morre nos meus pés, então conheço bem o início e fim das minhas coisas. Acho sábio tirar proveito das tantas que me fizeram cair e levantar. Aceito - as assim como as cores, como elas são
Vendo o dia se apagando,
Vejo a noite amanhecer.
Um caminho a gente encontra,
Só questão de procurar.
Se uma reta tá no céu,
Uma curva tá no mar.
Só não se acha saída
Quando a morte vem levar
.
[Toquinho]
Ás vezes prefiro o silêncio, é mais bonito
Mas transpiro palavras
Por que não nasci pra dentro
E meu coração cheio, transborda
Tão bonito, tão feio
Num suor de palavras
Rezo... Danço... Canto... Voo...
Quando feio penso escuro
Mas também falo a bonita
Palavras são transporte de pensamentos
E o silêncio,
Amo a vida
Fascina-me o mistérios de existir
Quero viver a magia de cada instante,
Embriagar-me de alegria
Que importa a nuvem no horizonte
Chuva de amanhã?
Hoje o Sol inunda o meu dia!
[Helena Kolody]
Eu sou filha da vontade
Pé no chão. Só um
Vontade de cantar para o mundo tudo o que eu não temo
Vou pra onde existe paixão. Sou movida pelo embalo de uma noite, um sol escaldante da manhã ou o batuque de um tambor qualquer
Porque eu gosto do que é vivo
Eu sou as duas faces de uma moeda só
Hoje estou feliz. Um dia choro, me quebro e desfaço, no outro, acordo sorriso e vontade de abraçar o mundo.
Assim,
eu vou
Ocupe o vazio, ataque as brechas, contorne o que ele defende, atinja-o onde ele não espera.
Sabe qual é meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia. Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada. No entanto, sei que você está a cada dia que passa mais fugidio. E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir esse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita, sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então atuo por instinto, cansando-me facilmente.
E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.
Fernanda Young
Maysa foi passional em todos os seus sentidos, amou demais, bebeu demais, tomou remédios demais e cantou belamente demais.
Marido e filho foram coadjuvantes nesta história, em sua passionalidade só havia espaço para um amor: a música.
Foi uma esposa displicente e uma mãe ausente, mas quem disse que uma mulher precisa desempenhar todos os papéis brilhantemente?
Cobranças de uma sociedade que não admite papéis nada convencionais, principalmente sendo uma mulher. Maysa foi transgressora, ousou, cantou com sua alma, sem máscaras, sem medo de dizer o que pensava e isto assustava.
"E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar."
Sempre gostei de ler. Desde quando fui alfabetizada até hoje leio tudo o que me cai na mão. Estou sempre “lendo” um livro. Leio sobre assuntos variados e não saberia citar um autor favorito. Tenho vários favoritos. Ultimamente ando mais aventureira.Mas devo confessar que é raro eu não gostar de uma história. Gosto da leitura pelo simples prazer de ver as palavras, de imaginar o cenário, de participar de outras histórias ou de repensar alguns pontos - no caso de livros de não-ficção.
A familiaridade com os livros leva à um outro interesse: a escrita. Dos meus tempos de ginásio lembro das aulas “Técnicas de Redação”, encarada pela maioria dos alunos como “aula vaga”. Foram naquelas manhãs que eu percebi que brincar com as palavras, esticá-las, espremê-las, multiplicá-las, também era tão legal quanto ler. Era com prazer que encarava os temas que a professora indicava e os elogios que recebi só me faziam gostar mais ainda das letras.
Minha auto-crítica sempre foi a mais severa e não ouso dizer que tenho talento para a coisa. O que sei é que gosto de escrever, pelo simples prazer de brincar com as palavras.
Quando a proposta única e exclusiva era ter um espaço virtual para escrever. Escrevi muita coisa. Coisas do cotidiano, coisas que passavam pela minha cabeça, coisas que achei que podia criar. A questão é que a escrita é exatamente como um exercício físico: quanto mais se pratica, mais facilidade se tem. Se não pratica, percebe-se “enferrujado” e o primeiro parágrafo depois de um período de ausência é sempre uma complicação.
Aos que me visitam esperando um diário virtual, sinto muito decepcioná-los. Não sou fã do estilinho “hoje fiz isso, isso e aquilo outro”. Quem vem aqui esperando encontrar uma " Bula histórica", enganou-se também, mas quem pensa em informações sobre a sensibilidade, cotidiano, o emocional, o imaginário, talvez seja um "prato cheio". Não porque eu seja a última edição do Guia 4 Rodas mas porque tudo isso faz parte da minha vida .E é isso que que tenho escrito é: um pouco da minha vida. De tudo um pouco e muitas coisas sobre nada.
Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo pois há segredos que não revelo: há muitos segredinhos primários que eu deixo que se mantenham em enigma. - Clarice Lispector em “Um Sopro de Vida”
Quantas Deusimar precisaria existir? Tem coisas que surge de dentro para fora... Quantas Júlias! Jennifer, Gabriel, Mateus,Jéssicas. Thayane,Lívias, Sayron, Daniela,Wanessa, Higor,Ruan, Pyscilla,Ellen, Eduardo,Caio, João,Bruna,Rafael..São tanto! Nem sei se caberia aqui...
"Naquele tempo eu lecionava num daqueles oásis que nascem da cana e dela vivem. Vivem do seu corte para comer e de seu destilado para suportar. Só conheciam aquele lugar os que ali viviam, porém ninguém conhecia os que ali viviam. Talvez pelo mesmo e desconhecido motivo pelo qual os de lá gostavam do lugar, eu aprendi a gostar. Era a minha Pasárgada.
Tomava-se um ônibus improvável para chegar-se a lugar improvável. E enquanto o ônibus serpenteava por entre a selva monótona, eu era obrigada a filosofar porque os sacolejos não permitiam nem a leitura nem o crochê. Era um incômodo encontro entre eu e eu mesma. Um encontro na madrugada e no frio, onde o mau-humor esbofeteava a Poliana.
Na cabeça, num videoclip indignado, apareciam os políticos, a tocha humana chinesa que protestava contra algum chinês, o namorado que não ligou, o pai ranzinza e a mãe que não entendia. Esses fragmentos revoavam a cada curva de nível, e em seu lugar outros não menos irritadiços pousavam. Mas tudo isso fugia logo ao primeiro "bom- dia" na sala de professores.
Foi num dia desses que apareceu a Deusimar, assim, do nada. Bonita era porque era criança e não existe filhote feio. Digamos assim: Ninguém nunca se lembraria dela para um comercial da Parmalat... Os cabelos desgrenhados, os dentes permanentes natimortos e tinha esmalte nos dedinhos encardidos. Usava uma camiseta onde se liam um nome e um número. Presente do "Tio" que, de quatro em quatro anos, descobria que eram gente os dali e, porque gente são, votam.
Acontece que a Deusimar tinha um pai e o pai cortava cana. Cortava para a usina e a usina pagava o pai. O pai deu duas de cem para a mulher, uma de um para o filho, outra de um para Deusimar e ficou com a de cinqüenta porque ninguém é de ferro. O irmão pegou o dinheiro e logo comprou um pirulito grande e chato, daqueles que nem cabem na boca. Já a Deusimar, não. Ela comprou não um, mas dois, daqueles que vêm com um apito.
No recreio, eu me entretinha com uma tangerina e ouvia a Manã contar a última do Paulinho quando ela veio. Esperou pacientemente o Paulinho cair da mangueira e depois disse com um fio de voz:
- Dona, ontem meu pai recebeu. Entãããoo, ele deu dinheiro pra mim e pro meu irmão. Entãããoo meu irmão comprou um pirulito grande. Eu não! Eu comprei dois pequenos. Um pra mim e um pra Dona. Tó.
E fugiu com suas perninhas de siriema.
Obrigada, Deusimar. Seu pirulito salvou os políticos, meu namorado, minha mãe e meu pai. Com o troco redimiu a humanidade. Felizmente os pirulitos valem mais que qualquer policial de Diadema ou queimador de pataxós, além de outras desgraças via satélite."
"Palavra prima
Uma palavra só, a crua palavra
Que quer dizer
Tudo
Anterior ao entendimento, palavra
Palavra viva
Palavra com temperatura, palavra
Que se produz
Muda
Feita de luz mais que de vento, palavra
(...)
Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra
(...)"
( Chico Buarque)
Parado junto ao mar,
Digo-te Adeus…
Adeus.
Olho á minha volta,
Tu já vais longe…
Longe.
Parado junto ao mar,
Grito o vazio que me deixas,
Os teus abraços… os lábios…
As palavras que deixo de ouvir,
As tuas palavras…
Vão lágrimas no mar que vai,
Como o meu sorriso quando chegas
Ou a minha tristeza quando partes.
Gostei da imagem que fala de abraços. Este "pensamento" é sobretudo de saudade...e quem diz um abraço diz outra coisa qualquer...mas essencialmente quem escreveu tem saudades de uma relação que já passou e gostava de poder revivê-la (quando fala que trocava todos os abraços por um único)...e gostava que a outra pessoa também sentisse o mesmo...ou pelo menos também sentisse saudades como ele, quando diz que trocava mesmo esse abraço (tão importante para ele), pela saudade que queria que ela também sentisse.
Madison County, 07 de janeiro de 1987
Queridos Filhos,
Ainda que me sinta bem, creio que é hora de por minhas coisas em ordem. Existe algo muito importante, que vocês devem saber.
Para mim é difícil escrever isto a meus próprios filhos, mas devo fazê-lo. Aqui há algo que é demasiadamente forte, demasiadamente belo, para que morra comigo.
Como já descobriram, se chamava Robert Kincaid. Era fotógrafo e esteve aqui em 1965, fotografando as pontes cobertas. Recordam como a cidade estava emocionada quando as fotos apareceram no National Geographic? Recordam também que por essa época comecei a receber a revista. Agora conhecem o motivo de meu repentino interesse. A propósito eu estava com ele (levando uma das mochilas com as câmaras), quando tomou a foto da ponte Cedar.
Entendem que amei ao pai de vocês de uma maneira tranqüila. Ele foi bom comigo e me deu vocês dois a quem amo muito. Não o esqueçam. Mas Robert Kincaid foi muito diferente. A primeira vez que o vi foi quando me pediu orientação para chegar a ponte Roseman. Vocês e seu pai estavam na Feira Estadual de Illinois. Creia-me, eu não andava buscando nenhuma aventura. Isso era a última coisa que ocupava minha mente. Mas ao mirá-lo soube que o desejava, ainda que não tanto como cheguei a desejá-lo depois.
Ele era um pouco tímido, e eu tive tudo a ver com o que passou como ele. A nota guardada junto com sua pulseira é a que eu preguei na ponte Roseman para que ele a visse, na manhã depois de conhecermos. As fotos minhas que ele conservava foram as única prova que ele teve, ao longo dos anos, de que eu existia, de que não era algum sonho que ele havia tido.
Em nossa velha cozinha, Robert e eu passamos horas juntos. Falamos e dançamos a luz das velas. E, sim, fizemos amor ali e no dormitório e no jardim e em qualquer outro lugar que pensem. Era uma relação incrível, poderosa, transcendente, e continuou durante dias, quase sem parar. Sempre tenho empregado a palavra forte ao pensar nele.
Porque assim era quando nos conhecemos. Era como uma flecha na sua intensidade.
Filhos, compreendam que trato de expressar algo que não se pode dizer com palavras. Só desejo que algum dia os dois possam viver o que eu experimentei.
Se não fosse por seu pai e por vocês, eu teria ido a qualquer lugar com ele. Ele me pediu, me suplicou que o acompanhasse. Mas eu não pude fazê-lo e ele era uma pessoa muito sensível e afetuosa para nunca interferir nas nossas vidas.
O paradoxo é que se não houvera sido por Robert, não estou segura de ter podido permanecer na granja por todos esses anos. Em quatro dias me deu toda uma vida, um universo, e uniu em uma só as partes separadas de mim. Nunca tenho deixado de pensar nele, nem por um momento. ainda quando não se achava em minha mente consciente, o sentia em alguma parte, estava sempre ali.
Mas isso nunca diminuiu o que sentia por vocês dois e pelo seu pai. Ao pensar só em mim por um momento, não estou segura de ter tomado a decisão correta. Mas tendo em conta a família, creio com bastante certeza que sim.
Não quero que sintam culpa ou lástima por nós. Só quero que saibam o quanto amei a Robert Kincaid. Eu o senti dia após dia, durante todos estes anos, o mesmo que ele.
Ainda que nunca mais tenhamos voltado a nos falar, permanecemos unidos tão estreitamente como é possível que se unam duas pessoas. Não consigo encontrar as palavras para expressar da forma adequada. Ele o fez melhor quando me disse que tínhamos deixado de ser dois seres separados, e, em troca, nos tínhamos convertidos em um terceiro, formado pelos dois. Nenhum de nós dois existia independentemente deste ser. E esse ser ficou sem rumo.
Não me envergonho do que Robert e eu vivemos juntos. Eu o amei desesperadamente durante todos esses anos, ainda que, por minhas próprias razões, somente uma vez tratei de entrar em contato com ele. Foi depois da morte de seu pai. O intento fracassou e temi que houvesse acontecido algo. Assim nunca mais voltei a tentá-lo, por causa desse medo. Simplesmente não podia enfrentar essa realidade. De maneira que agora podem imaginar o que senti quando soube da sua morte.
Como disse, espero que compreendam e não pensem mal de mim. Se me amam, devem amar o que fiz. Robert Kincaid me mostrou como era ser mulher de um modo que poucas mulheres experimentaram. Era atraente e carinhoso, e por certo merece o respeito e talvez o amor de vocês. Espero que possam dar-lhe as duas coisas. A seu próprio modo, através de mim, ele foi bom com vocês.
Que sejam felizes, meus filhos.
Mamãe
"Quando assisti a esse filme (As Pontes de Madison Count), tive contato com uma situação que naquela época era totalmente irreal para mim... Uma situação completamente impensável, mas tinha algo nela de "dejà vu" que me incomodou muito... Como se fosse um insight do que me reservava o futuro... Hoje, vários anos depois, eu entendo perfeitamente os sentimentos e a opção feita por Francesca. Ela tinha que optar pelo amor por um (o grande amor de sua vida) para o amor por muitos (marido e filhos). Agora compreendo que o verdadeiro amor, aquele incondicional, verdadeiro, eterno, o que une almas gêmeas, espíritos afins... Isso é o amor que ultrapassa essa barreira efêmera de tempo e espaço, não necessariamente estará ao seu lado fisicamente até os fins de sua vida terrena; mas com certeza estará gravado em sua alma... em seu coração...."