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"Mulher é desdobrável. Eu sou." Adélia Prado.




Ah, não sei, não. Não é de mim ser moderada. Não é de mim sentir pela metade. Gosto e venero o improvável. Minhas tristezas são intensas, minhas verdades absolutas. Não gosto de frases-feitas. Não quero superfícies. O razo não me satisfaz. Sou a favor de gente de verdade. De quem não tem medo e a dar a cara a tapa. Liberdade de ser, coragem boa de se mostrar. Ser louca, linda, chata. Eu sou assim. Sou volúvel. Tenho um temperamento difícil. Uma TPM horrível. Mudo de humor conforme a lua. E tenho um coração que me engole. Quando eu quero, vou lá e me sirvo. Quando estou com vontade, vou lá e faço. Quando me entrego, me entrego por inteira. Não quero uma vida pequena nem um amor pequeno. Eu quero meus defeitos, efeitos e loucuras. Na verdade, sempre fui diferente. Sempre tive um jeito meio de bicho-do-mato. Nunca gostei de enrolação. De papo furado. Gosto de pessoas diretas. E odeio linha reta. Meus caminhos são tortos. Minha vida nem eu mesma entendo. Tenho um coração livre, mesmo amando tanto. Vôo alto, sim. Não poupo verbo. E vivo de palavras. É, pode me chamar de louca. Mas eu escolhi isso para mim: viver de palavras. Elas me alimentam a alma. Quer me encontrar? Estou aí, bem aí. Na rima. Na frase. No poema. Na música. Nunca sei a hora certa. Não existe começo nem fim em mim. Sou sensível ao extremo. Choro por qualquer coisa, mas não é qualquer coisa que me faz chorar. Por isso, eu te peço, se eu gostar de você, procure gostar de mim. Sou mais feliz do que triste. Adoro abraço. Adoro gente. Quase nunca estou para ninguém. Não gosto que me sufoquem. Mas amo está grudada, amarrada, amassada. Gosto de pegar, sentir, tocar. O meu verbo é sentir. E eu sinto. Sinto muito. Gosto e almejo a liberdade. Não pergunte aonde vou, mas me peça para voltar logo. Vivo sem entender. E nem procuro razões para viver. Sigo a vida conforme o roteiro. Um roteiro que não existe. E eu crio. Não me considero fácil, mas nem tão difícil. Quer me entender? Vá em frente, meu amigo. Boa sorte!

1 comentários:

Unknown disse...

Abro bem os olhos, e não adianta: apenas vejo. Mas o segredo, este não vejo nem sinto. A eletrola está quebrada e não viver com musica é trair a condição humana que é cercada de música. O futuro é meu enquanto eu viver. O futuro da tecnologia ameaça destruir tudo que é humano no homem, mas a tecnologia não atinge a loucura; e nela então o humano do homem se refugia.

(Clarice Lispector)