A educação sem fronteiras é o sonho de qualquer educador, de todo aluno e de todos os pais de alunos, enfim um sonho para uma sociedade mais justa. Mais justa a medida que o ensino vai além das fronteiras do preconceito em todas as suas formas, abrangendo e levando educação de qualidade a todos, sem distinção de raça, classe social, sexo, ou qualquer outro tipo de diferenciação. Para tanto, é necessário indicar pistas de um agir coerente com a responsabilidade, com a conseqüência das escolhas que um ser humano traça em sua existência, e é esse o dever primeiro da escola!
A educação é um dos pilares da sociedade e a forma como as instituições de ensino conduzem o aluno, trazem significativas mudanças para o futuro tanto do aluno como da sociedade.
O aluno precisa ter no ambiente escolar um porto seguro, um local que alem da aprendizagem, propicie seu bem estar, seu crescimento continuo.
A instituição escolar deve transmitir alem dos ensinamentos curriculares os ensinamentos básicos para um bom convívio em sociedade e para tanto extirpar toda e qualquer forma de preconceito, toda ação ou omissão nesse sentido. A escola deve cumprir seu papel social. Deve ser socialmente responsável. Deve propiciar uma educação sem fronteiras.
A educação deve se pautar no ato de educar, de formar o indivíduo para um futuro profissional, mas também para um bom convívio em sociedade - antes de tudo temos que reconhecer que as diferenças existem - e as distinções em forma de preconceito não podem e não devem ocupar lugar nesse ambiente.
Portanto, o preconceito ou injustiça não são apenas em função de alguns grupos serem prejudicados na aquisição de escolaridade, mas também devido ao fato desta divisão de grupos determinarem as chances dos indivíduos por toda vida, e por longas gerações. Nelson do Valle Silva neste sentido diz que:
"(...) alguns estudiosos da questão [e.g. Tilly, 1999] sugerem que de maior significância sociológica é a análise das desigualdades entre grupos sociais definidos a partir de categorias nominais, tais como as de gênero ou raça, dada a possibilidade da existência de instituições [por exemplo, mecanismos discriminatórios ou de segmentação de mercado] que as mantenham, tornando-as "desigualdades duráveis". As desigualdades entre indivíduos podem ter origem numa quantidade muito grande de fatores, muitos deles irrelevantes para a análise, incluindo mesmo um elemento irredutivelmente aleatório, que alguns interpretam como "acaso" ou "sorte" [e.g. Jenckins et alii, 1971]. Assim, de um ponto de vista de justiça social, pode-se argumentar pela maior relevância de se focalizar a evolução das desigualdades entre grupos sociologicamente relevantes do que pela exclusiva fixação na desigualdade entre pessoas. (Silva, 2003, p.455)".
Através da escola, da faculdade, enfim do ensino de forma geral o aluno é, a cada dia, moldado em conformidade com os parâmetros da instituição e dos seus professores e colegas, portanto o convívio com estes refletirá para sempre em sua vida. A educação é o instrumento mais eficaz para se moldar valores, comportamentos e habilidades. A educação, face à evidente globalização do planeta, deve preparar as gerações futuras para uma sociedade multicultural.
Canen (2001) define o multiculturalismo como um conjunto de princípios e práticas voltados à valorização da diversidade cultural bem como para o desafio de preconceitos e estereótipos a ela relacionados. O multiculturalismo é visto como um princípio ético que tem originado a ação de grupos culturalmente dominados, aos quais foi vetado o direito de preservarem suas características culturais.
Portanto é necessário introduzir elementos de uma visão mais universal nos bancos escolares, de maneira a criar uma apreciação pelo diferente. As diferenças não se constituem necessariamente em conflito e o conflito não implica obrigatoriamente em discriminação ou violência, assim como harmonização não significa homogeneidade.
Outro fator preocupante é o individualismo que acomete o ser humano dia -a- dia. Os seres humanos, às vezes, se assemelham a máquinas movidas pela vaidade. Caminham sem saber para onde.
Melhor seria se essa individualidade fosse substituída por laços de ternura e companheirismo. Afinal o que são os alunos e professores, senão colegas em busca do eterno aprendizado?! Neste sentido Augusto Cury em sua obra, Pais brilhantes Professores fascinantes:
"A educação moderna está em crise, porque não é humanizada, separa o pensador do conhecimento, o professor da matéria, o aluno da escola, enfim, separa o sujeito do objeto."
A secura e distanciamento entre professor e aluno devem dar lugar a uma relação de carinho e proximidade. Uma proximidade tal que o aluno seja levado a querer aprender. A desejar sempre mais e que o educador sinta-se como um elemento de importância fundamental na vida daquele aluno que levará para sempre os ensinamentos adquiridos. Enfim, o professor deve ser um aliado na construção do indivíduo - aluno e não, simplesmente, um transmissor de disciplinas.
Educar sem fronteiras é educar com amor!
Referencias
CANEN. Universos Culturais e Representações Docentes: subsídios para a formação de professores para a diversidade cultural. Educação & Sociedade, 2001, n.77, p.207-227.
CURY A. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes: Ed. Sextante - RJ - 2003, pág. 139.
SILVA N. V. 2003b. Duas décadas de seletividade marital educacional no Brasil. In: SILVA, N. V. e HASENBALG, C. Origens e Destinos - Desigualdades sociais ao longo da vida. Rio de Janeiro: Topbooks, p.359-380.