As palavras não são indiferentes: umas fazem-nos mal, irritam-nos, criam distância; outras, pelo contrário, vêm ao nosso encontro e adoçam-nos a alma. Quem as domina e as sabe utilizar é afortunado porque adiantou muito na vida e evitará grandes desgostos. E, mais importante ainda, será semeador de paz e de alegria."[Miguel-Angel Martí García]
onde os meus lábios terminam
e começa o mar dos meus pedaços
podias estar aqui,
na janela onde debruço a alma,
em gestos do meu rosto, a recordar-te
podias estar aqui,
só no teu rosto vi a aurora,
como nunca vi em mais algum."
Antonio Paiva
Não importa onde você parou...
'pois é, não deu
deixa assim como está sereno.
pois é de Deus
tudo aquilo que não se pode ver
e ao amanhã a gente não diz
e ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver.
pois é, até
onde o destino não previu
sei mas atrás vou até onde eu consegui
deixa o amanhã e a gente sorri
que o coração já quer descansar
clareia minha vida, amor, no olhar'
[los hermanos]
Que todo mundo tenha um amor quentinho. Descanso pro complicado do mundo. Surpresa pra rotina dos dias. A quem esperar. De quem sentir saudades. Um nome entre todos. O verso mais bonito. A música que não se esquece. O par pra toda dança. Por quem acordar. Com quem sonhar antes de dormir. Uma mão pra segurar, um ombro pra deitar, um abraço pra morar. Um tema pra toda história. Uma certeza pra toda dúvida. Janela acesa em noite escura. Cais onde aportar. Bonança, depois da tempestade. Uma vida costurar na sua, com o fio compriiiiido do tempo.
Li isso e adorei...seja por um sentido, uma causa...
Vestirei a fantasia que quiser, serei princesa, bruxa, guerreira, feiticeira... Mas não deixarei escapar o que me faz quem sou. Amarei como sempre, aos montes, pintarei os dias com cores, das mais alegres, buscarei sempre os caminhos dos sorrisos e dos abraços.
A vida corre com sede de chegar e eu acompanho, correndo atrás.
"Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente. Sou isso hoje... Amanhã, já me reinventei. Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar... Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil..."
Solidão é estar no escuro da alma
vazia, sozinha,
empurrada pelas marés,
encostada nas rochas frias do mar,
noites e dias longos que parecem não ter fim,
sem luz, sem flores, sem calor,
sem tua presença pra me acolher,
sem conversa pra troca...
Não há fluidez de compartilhamento
porque não tens tempo pra parada,
pra ouvir e entender
a dor do extravasamento
que pede frangalhos do teu momento,
da tua vida
pra compartilhar um pouco só
da minha saudade,
do meu amor escondido,
de tantas ausências,
sei lá, da minha insana vontade
de tudo contigo falar.
Por favor, pare, me olhe,
me estenda a mão, me toque o coração.
Sueli Andrade (Poetisa das Marés)
basta ter sentimentos,
basta ter coração.
Precisa saber falar e calar,
sobretudo saber ouvir.
Tem que gostar de poesia,
de madrugada,
de pássaro, de sol, da lua,
do canto, dos ventos e das canções da brisa.
Deve ter amor, um grande amor por alguém,
ou então sentir falta de nãoter esse amor..
Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados.
Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro,
mas não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo
e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa.
Tem que ter ressonâncias humanas,
seu principal objetivo deve ser o de amigo.
Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos,
que se comova, quando chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples,
de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância.
Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer,
para contar o que se viu de belo e triste durante o dia,
dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados,
de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo para se parar de chorar.
Para não se viver debruçado no passado embusca de memórias perdidas.
Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando,
mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Vinícius de Moraes
O sol quente das manhãs
As noites de luar
A vida é tudo o que se quis
É um canto de amor
Mas de repente não há mais música no ar
E tudo é diferente do que você sonhou
Se você sentir a solidão da escuridão
Pense em quem te faz feliz
A amizade tem um querer bem
Que esteja onde estiver
Tudo vai ser como é
Basta ouvir seu coração
Seu coração
As lembranças vão surgir
É só você buscar
Abraços e sorrisos
Que ninguém pode apagar
Vão relembrar histórias
Que você já se esqueceu
Ninguém está sozinho
Se não existe adeus
Se você sentir a solidão da escuridão
Pense em quem tem faz feliz
A amizade tem um querer bem
Que esteja onde estiver
Tudo vai ser como é
Basta ouvir seu coração
Há um lugar em você
Onde está a alegria de viver
Preste atenção no que essa voz diz
Em seu coração
Você não vai se perder
Se você sentir a solidão da escuridão
Pense em quem te faz feliz
A amizade tem um querer bem
Que esteja onde estiver
Tudo vai ser como é
Basta ouvir seu coração
(Composição: Ivan Lins / Mauricio Manieri)
Hoje sonhei...
Sonhei muito alto!
Sonharam comigo...
E como é bom não sonhar sozinha e ouvir:
“Vai dar tudo certo, você é de Deus os seus sonhos são os dele também..”
E mesmo ainda um pouco incrédula, a esperança voltou...
A vontade de tornar real teve começo!
Agora não é mais começar do zero, pois o “zero” não existe mais.
Fecho os olhos imagino como será...
O coração pulsa... Pulsa...
Como o de uma menina quando vê o seu primeiro amor...
Falo baixinho para Deus:
-Ei, obrigada por sonhar comigo.... Obrigada porque aos meus olhos não vejo nada ainda, mas Tu já vês o profundo...
Digo sim , vou sonhar ,realizar,concretizar e VENCER!
Que passe um mar dentro de mim pra levar sempre o que não foi bom e me abra os olhos de novo, pro novo. Pra ter coragem e fé todos dias pra dançar na vida, cantar sonhos, colecionar estrelas, guardar sorrisos em pacotes, aqueles que nascem por qualquer motivo... Nos meus dias plantar sementes brancas e ter um jardim forrado de trevos, de quatro folhas.
Os jardins, ah, os jardins! Nascem com pretensão de encantar, e a gente sorri vendo a vida verde sempre que a gente abre os olhos pra vê-los...
Seja educada, mas não certinha.
Não minta, nem conte toda a verdade.
Dance sozinha quando ninguém estiver olhando.
Divirta-se enquanto seu lobo não vem
[ Martha Medeiros]
"Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade,faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte,faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais,porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la,abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém."
Trecho do livro "Uma aprendizagem", de Clarice Lispector.
Esquadros
(Adriana Calcanhoto)
Cores de Almodóvar
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Expondo meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
A frase é de Adélia Prado e a li num livro de Rubem Alves.
Amor, palavra de apenas quatro letras e que encerra dentro de si tudo que realmente necessitamos. Ficar eternizado sempre foi objetivo do ser humano.
Muitos perseguem o eterno quando ele pode ser alcançado de maneira tão simples.
Basta olhar para a história e constatar que aqueles que alcançaram este objetivo foram os que colocaram amor no que faziam.
O ser humano tão logo se tornou um ser com um mínimo de racionalidade já se preocupava com eternizar um momento, uma lembrança, um fato, sem se dar conta que era isto que fazia. Os desenhos rupestres são testemunhas milenares deste fato. E estão ai até hoje como exemplo concreto deste fato.
Governantes, empresários, políticos, administradores, esportistas, competidores, procuram cada um em sua área, alcançar obsessiva, compulsória e na maioria das vezes conscientemente este objetivo, embora sem o confessarem.
Do passado ficaram exemplos marcantes de grandes obras e feitos de pessoas que sacrificaram povos, em prol destes objetivos grandiosos. Poucos são os monumentos que resistiram ao tempo para atender o objetivo proposto.
Buda, Confúcio, Cristo, Gandhi para ficar em nomes dos que cultivaram o amor irrestrito, pura e simplesmente, alcançaram tal feito.
A morte que alcança todo ser vivo, não fez desaparecer seus feitos, atos, palavras. Pelo contrário, fez germinar o que amavam e ensinavam. Qual semente que precisa morrer para renascer.
“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita fui a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”
Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres.
Clarice Lispector
Há quintais que são simples, por isso insistem em guardar dizeres. “-Quintais não falam!” Mas dizem, meu bem. E tanto. Simples, fotografam a mesma borboleta diariamente e à noite montam diálogos longos e escrevem desenhos imaginários. Mesmo sem braços, em um quase não-existir.
Há os quintais que são leves. Perdem-se em sua imensidão para não deixar os visitantes conhecerem seu abismo. Perdem-se em flores e sorrisos desmedidos. Constantes, intensos, incondicionais.
E há a ventania que fere os quintais mais sensíveis. E fere até os brutos, se duvidar. São os brutos que se deixam ferir por não serem tão brutos assim como pensam.
Quintais guardam amor e juntam esperas. Os corações desses quintais batem descompassados porque têm motivos pra bater assim. E, na essência, cada quintal guarda um céu.
“O papel do intelectual não é
Terminei de ver o filme com a sensação de que aquilo não havia acabado e por isso resolvi escrever... percebi que nas tantas vezes que passei em sala de aula este filme, tem sempre algo inacabado, as vezes me desvio de tecer a veia histórica que existe
A partir da história pessoal de cada um dos personagens, o filme vai traçando um panorama de vários momentos da história, ao mesmo tempo em que denuncia a luta dos camponeses pela reforma agrária e as injustiças e desigualdades sociais as quais o povo é submetido. Sendo assim um importante filme político, a partir do momento em que questiona políticas sociais e do governo, ou seja, as ações humanas que, em si, são políticas.
Em 1962, Coutinho era membro do CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE Volante que percorria o país com o objetivo de promover a discussão da reforma universitária. Em abril, os estudantes chegam à Paraíba, duas semanas depois do assassinato de João Pedro Teixeira - fundador e líder da liga camponesa de Sapé - por ordem de latifundiários. Tais ligas camponesas eram criadas desde os anos 50 com o objetivo de conscientizar o trabalhador rural e defender a reforma agrária.
Eles se dirigem à Sapé e, no dia seguinte a chegada, há um protesto contra o assassinato de João Pedro onde Coutinho conhece sua viúva, Elizabeth Teixeira. A partir daí surge a idéia de fazer um filme de ficção sobre a vida e a morte de João Pedro na luta pela reforma agrária, em que os camponeses do local, Elizabeth Teixeira e seus filhos representariam seu cotidiano em frente às câmeras interpretando seus próprios papéis. As cenas seriam filmadas nos locais reais e com os participantes reais (não-profissionais) da história.
Dois anos depois, com o roteiro pronto, começam as filmagens, mas um conflito na região, envolvendo policiais, funcionários de uma usina e camponeses, resultou na morte de 11 pessoas e a ocupação da região. As filmagens são então transferidas para o Engenho da Galiléia (PE) - onde havia surgido a primeira liga camponesa do Brasil. Os atores eram escolhidos entre os camponeses locais. Dos antigos atores, só Elizabeth interpretaria ela mesma.
Mas as filmagens são novamente interrompidas quando, logo após o golpe militar de 64, militares invadem o local a procura de “subversivos” e o equipamento de filmagem, um “vasto material subversivo (...), filmes para a formação agitadora dos camponeses” (como foi veiculado na imprensa) é todo apreendido. Porém, parte do material filmado já havia sido enviado para o laboratório no RJ o que permitiu que fosse recuperado posteriormente. Alguns membros da equipe foram presos e outros se esconderam na mata, fugindo no dia seguinte.
A partir daí, com o controle do país nas mãos dos militares era impossível realizar qualquer filmagem, qualquer agitação popular era considerada subversão. Os profissionais que trabalhavam no filme são obrigados a fugir, Elizabeth Teixeira vira Marta Maria da Costa e foge com o filho Carlos para uma cidade do Rio Grande do Norte e seus filhos se dispersam pelo país como refugiados e são criados por parentes.
Com a abertura política comandada pelo General Figueiredo, 17 anos depois, Coutinho volta aos mesmos locais numa tentativa de reencontrar seus personagens. Desta vez não há roteiro, há a curiosidade de saber o que aconteceu com as pessoas, projetar as imagens que haviam sido filmadas na época e a intenção de retomar o projeto. Assim, inicialmente, ele faz um filme sobre o filme interrompido (que era uma ficção baseada em fatos reais), em que ele ao mesmo tempo em que conduz a história, é um dos seus personagens, conversa com a equipe e com os personagens: participa dos dois lados da história, na frente e por trás das câmeras.
O primeiro local a ser visitado é Galiléia, o diretor reencontra os camponeses, conversa, quer saber do que eles lembram – e nós acompanhamos todo o trajeto. À noite, são projetadas as imagens que haviam sido filmadas e salvas e o que mais chama a atenção dos moradores é o fato de se reconhecerem na tela mais jovens.
Depois o diretor sai em busca de Elizabeth e seus filhos. Abraão (o mais velho) conduz a equipe até Elizabeth que, ao virar Marta, tenta recomeçar sua vida, mas nunca esquecendo a eterna luta pelos direitos dos trabalhadores. Depois da retomada do filme, de concordar a ser filmada, volta a ser Elizabeth, sai da clandestinidade e reencontra alguns de seus filhos. E nós acompanhamos tudo isso pelas lentes da câmera – o filme que interfere na realidade. Como observa Avellar, o filme é “...uma ficção com vontade de ser documentário, um documentário com vontade de ser ficção.”
Depois do inesperado reencontro, conversa com Coutinho e vai contando a história da sua vida. Fala do filho de 11 anos que levou um tiro três meses depois do pai ser assassinado, a filha que oito meses depois se suicida - sendo este um dos momentos mais carregados dramaticamente no filme. No primeiro dia foi a surpresa, ela fala do passado, relembra o sofrimento no dia da morte de João Pedro. No dia seguinte, ela reconhece que se emocionou e “não falou direito” e então relembra desde o começo de como conheceu João Pedro até sua trajetória política.
Outro depoimento marcante é o de João Mariano (que interpretaria João Pedro no filme de 64) ele era o único que não pertencia ao Engenho da Galiléia e não tinha participação no movimento camponês mas, como estava sem trabalho, acabou entrando no filme e logo se identificou com a história de João Pedro, pois também se encontrava ameaçado de morte. Logo no começo da entrevista, Coutinho comenta que o vento pode estar atrapalhando o áudio e à interrupção do diretor segue-se o silêncio de João Mariano, como se hesitasse em falar, mas depois de um silêncio, ele começa a falar de sua experiência com o filme.
Há os depoimentos dos filhos: Manoel (que estava com o avô) apesar de não ter lembranças da família, nem fotografias, refez o túmulo do pai que havia sido destruído. O filho (José Eudes) conta que nem sequer chegou a conhecer alguns irmãos, mas que sempre pensa na família em tudo que aconteceu.
Assim, o filme de 84 vai buscar na memória de seus personagens de 64 os fatos da época, as lembranças de tudo que aconteceu e deixou marcas permanentes na vida de cada um. Se, a princípio, os fatos seriam reconstituídos em forma de ficção, agora são reconstituídos através da memória. Os depoimentos dos personagens que recontam o passado são entrecortados pelas imagens que puderam ser salvas em 64.
O filme de Coutinho além de retratar uma história – ou um período histórico – também sofreu suas conseqüências e foi alvo das injustiças da época, ele mesmo fazendo parte da história que conta.
Os assassinos de João Pedro foram descobertos: dois soldados da polícia militar e um funcionário de fazendeiro. O mandante era latifundiário e, ao assumir uma cadeira na Assembléia Legislativa ganhou impunidade. Um deputado e quatro suplentes renunciaram para permitir a sua posse, encerrando o processo. Os executores foram julgados e absolvidos jogando mais um caso na impunidade.
No final do filme, em sua última fala, Elizabeth denuncia: “A luta não para. A mesma necessidade de 64 está traçada (...) do operário, do homem do campo. A luta não pode parar. Enquanto existir fome e salário de miséria o povo tem que lutar (...). É preciso mudar o regime, a democracia (...) democracia sem liberdade? Democracia com salário de miséria? Democracia como filho do operário sem direito de estudar?” É o retrato de uma realidade registrada há 24 anos e que, infelizmente, permanece atual.
Um momento onde essa música diz tudo... Falou nas profundezas de suas palavras o que sente agora meu coração.
É como se a gente
Não soubesse
Prá que lado foi a vida
Por que tanta solidão?
E não é a dor
Que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão...
Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou...
É como se a gente
Pressentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou o medo de ficar
Vazio demais meu coração...
Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Nem me avisou!
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me maltratou...
Ah, não sei, não. Não é de mim ser moderada. Não é de mim sentir pela metade. Gosto e venero o improvável. Minhas tristezas são intensas, minhas verdades absolutas. Não gosto de frases-feitas. Não quero superfícies. O razo não me satisfaz. Sou a favor de gente de verdade. De quem não tem medo e a dar a cara a tapa. Liberdade de ser, coragem boa de se mostrar. Ser louca, linda, chata. Eu sou assim. Sou volúvel. Tenho um temperamento difícil. Uma TPM horrível. Mudo de humor conforme a lua. E tenho um coração que me engole. Quando eu quero, vou lá e me sirvo. Quando estou com vontade, vou lá e faço. Quando me entrego, me entrego por inteira. Não quero uma vida pequena nem um amor pequeno. Eu quero meus defeitos, efeitos e loucuras. Na verdade, sempre fui diferente. Sempre tive um jeito meio de bicho-do-mato. Nunca gostei de enrolação. De papo furado. Gosto de pessoas diretas. E odeio linha reta. Meus caminhos são tortos. Minha vida nem eu mesma entendo. Tenho um coração livre, mesmo amando tanto. Vôo alto, sim. Não poupo verbo. E vivo de palavras. É, pode me chamar de louca. Mas eu escolhi isso para mim: viver de palavras. Elas me alimentam a alma. Quer me encontrar? Estou aí, bem aí. Na rima. Na frase. No poema. Na música. Nunca sei a hora certa. Não existe começo nem fim em mim. Sou sensível ao extremo. Choro por qualquer coisa, mas não é qualquer coisa que me faz chorar. Por isso, eu te peço, se eu gostar de você, procure gostar de mim. Sou mais feliz do que triste. Adoro abraço. Adoro gente. Quase nunca estou para ninguém. Não gosto que me sufoquem. Mas amo está grudada, amarrada, amassada. Gosto de pegar, sentir, tocar. O meu verbo é sentir. E eu sinto. Sinto muito. Gosto e almejo a liberdade. Não pergunte aonde vou, mas me peça para voltar logo. Vivo sem entender. E nem procuro razões para viver. Sigo a vida conforme o roteiro. Um roteiro que não existe. E eu crio. Não me considero fácil, mas nem tão difícil. Quer me entender? Vá em frente, meu amigo. Boa sorte!